O Windows 10, que deverá começar a ser comercializado na segunda metade do próximo ano, vai ter uma forte adoção por parte das empresas. Isto porque o suporte ao Windows XP já não é mais assegurado pela empresa norte-americana e o Windows 8 acabou por ser mais apetecível para os utilizadores de equipamentos táteis. Rita Santos, diretora da Unidade de Negócio Windows na Microsoft Portugal, explicou em exclusivo à “B!T” quais as expectativas que a empresa tem face ao novo sistema operativo.
B!T – O novo Windows já foi apresentado. Em S. Francisco, na apresentação da nova plataforma, Terry Myerson, vice-presidente executivo do grupo de Sistemas Operativos, explicava que o Windows 10 é um salto tão substancial face a anterior versão que decidiram saltar sobre a plataforma 9…
Rita Santos – Exatamente. Deixe-me contextualizá-la. O Windows XP teve uma grande adoção por parte das empresas. Isto porque o lançamento deste sistema operativo coincidiu com um momento no tempo em que foram desenvolvidas muitas aplicações empresariais. Aplicações essas que corriam em cima do Windows XP.
B!T – Mas estamos a falar em ERP, CRM…
RS – Tudo! Desde as intranets às aplicações de recursos humanos mais simples, marcações de férias, até aplicações de CRM.
B!T – Mas o suporte ao Windows XP chegou ao fim.
RS – Exatamente, chegou ao fim de vida. Há por isso necessidade das empresas mudarem para uma plataforma aplicacional diferente. Não só porque a que têm não está a ser suportada mas também porque há novos desafios de negócios aos quais as empresas têm de responder.
B!T – De que desafios estamos a falar?
RS – Essencialmente desafios ligados à mobilidade. Hoje, os utilizadores da tecnologia estão altamente móveis, acedem à informação desde vários dispositivos, dispositivos esses que andam dispersos, não só dentro dos edifícios físicos das empresas, mas andam nos clientes… As pessoas cada vez têm mais necessidade de aceder à informação remotamente, como se tivessem na empresa. Ou seja, mesmo do ponto de vista das TI, há uma dispersão dos dados da empresa por um conjunto de plataformas que para serem acessíveis remotamente criam uma série de fragilidades. Basicamente criam novos desafios do ponto de vista da segurança e da gestão.
B!T – Valências que o Windows 8 não contemplava?
RS – O Windows 8 já contemplava, mas estão melhoradas no Windows 10. A razão pela qual as empresas vão mudar do XP e mesmo do Windows 7 para o 10 tem muito a ver com facto do Windows 8 ter sido concebido para tirar partido das superfícies tácteis. Ou seja, quando passamos para o Windows 8 houve um enfoque naquilo que era a nova realidade do toque. No fundo criou-se um novo ambiente, de aplicações tácteis, a par do universo do desktop. O que verificamos é que a satisfação com o Windows 8 é muito elevada nas pessoas que têm dispositivos táteis, e não tão grande nos restantes utilizadores que não viram grande vantagem em mudar de sistema operativo.
B!T – A satisfação foi maior com o Windows 8.1? Voltaram a integrar o botão iniciar, que tinha desaparecido…
RS – Sim, a versão 8.1 teve algumas alterações, entre as quais o botão “iniciar” que levou a uma maior aceitação por parte do universo de utilizadores que não tinham dispositivos táteis.
B!T – Resumindo, a grande mudança nas empresas vai-se fazer do XP e do Windows 7 para o 10?
RS – Exatamente. O Windows 10 traz grandes melhorias mas é verdade que do ponto de vista da usabilidade é uma síntese do que era a utilização de desktop do Windows 7 com a experiência do Windows 8. Há uma usabilidade que está preparada para os utilizadores de desktop, o booting é feito diretamente para o desktop, mas é, ao mesmo tempo, um sistema operativo que não está limitado ao PC. Ou seja, vai passar a estar presente em todo o sortido de dispositivos que a Microsoft tem. E isso também tem uma vantagem do ponto de vista produtivo. Quando se muda de sistema operativo, há muitos investimentos a fazer. Entre eles, há a familiarização dos utilizadores com esse sistema operativo. Isso tem de ser contabilizado, porque é tempo. O facto de termos um sistema que é igual no telefone, no small tablet, no tablet, no PC e até na Xbox, significa uma poupança de custos e energia gasta na adoção.
B!T – Hoje o Windows está presente em que percentagem das empresas?
RS – Claramente na grande maioria das empresas. Mas isso não quer dizer que um dos nossos desafios não seja obviamente estarmos atentos à nossa concorrência, até porque sabemos que o universo da mobilidade traz da utilização do consumo uma série de dispositivos que antes não se viam nas empresas, como por exemplo os tablets da nossa concorrência… Não estamos distraídos mas queremos que as empresas continuem a contar com a Microsoft para duas coisas. Primeiro, para modernizar o parque informático que está instalado, para que os utilizadores normais das empresas que trabalham em desktop se sintam acompanhados com novas versões. E o Windows 10 responde claramente a essa necessidade. Depois, queremos criar novos cenários de utilização de tablets e dispositivos de toque que transformem o negócio dessas empresas. Porque repare, o que as empresas podem fazer com um dispositivo táctil é profundamente diferente do que poderiam fazer sem esse dispositivo.
B!T – Por exemplo…
RS – Por exemplo, uma força de vendas que esteja a apresentar o produto num catálogo em papel não tem a mesma eficácia de uma empresa que tem uma força de vendas que pegue num tablet e que possa mostrar vídeo, interatividade… é muito mas rico! Dou-lhe ume exemplo muito prático. Antes, os maquinistas da Fertagus tinham de levar resmas de papel, hoje têm um tablet onde fazem uma picklist que rapidamente identifica as questões de manutenção que têm de ser verificadas. E essa picklist é automaticamente carregada nos sistemas da manutenção, pelo que quando o comboio chega já se sabe o que tem de ser verificado. Toda a informação legal, que tipicamente tinha de ser retirada em cópias e voltadas a colocar no mesmo dossier passa a ser um download diário com pdf automaticamente carregado nos tablets.
B!T – As empresas já transitaram todas para outro sistema operativo que não o XP? O número de empresa que ainda usa este sistema operativo para o qual vocês já não garantem suporte é preocupante?
RS – Não estamos em situação de risco e crise eminente mas, por outro lado, não estamos descansados enquanto todas as empresas não tiverem migrado do Windows XP. É importante que as empresas entendam que à medida que o tempo vai passando vai havendo cada vez mais vulnerabilidades. Porque a partir do momento em que nós não desenvolvemos “patchs” de segurança que respondam aos ataques que vão sendo desenvolvidos no mercado, o sistema vai ficando cada vez mais vulnerável. É importante que isso se perceba porque o problema que levanta uma brecha de segurança é nós não conseguirmos medir o impacto…
B!T – Mas as empresas estão, sobretudo nesta altura economicamente frágil, aptas a investirem num novo sistema operativo? Os empresários têm noção dessa vulnerabilidade a que estão sujeitos?
RS – A consciência tem vindo a aumentar. A imprensa especializada e mesmo a generalizada vão começando a falar sobre esses temas para além de que as pessoas começam mesmo a entender essa exposição à vulnerabilidade. Mesmo as pequenas e médias empresas… Cremos que o Windows vai ser um bom empurrão. Quanto aos investimentos que têm de efetuar, são os investimentos que qualquer empresa minimamente atual tem de fazer para se manter ativa. Até porque os equipamentos que suportam o XP têm tipicamente mais de seis anos. A renovação dos parques informáticos deve acontecer de três em três ou quatro em quatro anos. E à medida que o parque informático vai envelhecendo vai tendo custos que muitas vezes não são contabilizados, desde suporte, manutenção, substituição de peças…
B!T – Que expectativa tem face ao mercado nacional? Suponho que ainda não haja tempo para muito feedback…
RS – Neste momento estamos a efetuar algumas conversas informais no sentido de encorajar os interessados a fazerem o download da versão de teste. Não temos por objetivo ter muita gente a fazer o teste, até porque esta não é uma versão que esteja pronta para uma utilização diária e em contínuo. Ou seja, não queremos que os clientes façam uma adoção antes do tempo. É uma “preview” técnica. O objetivo é precisamente que os profissionais de TI possam testar, perceber o que aí vem até para poderem ter a empresa preparada para esta adoção.
B!T – As datas ainda não há datas de libertação do Windows 10, mas será na segunda metade do próximo ano?
RS – Tipicamente, temos um evento em abril denominado Build, para developers. Nesse evento foram prometidas algumas novidades o que faz antecipar que haverá uma versão para desenvolvimento nessa altura. Se isso acontecer, o segundo passo é haver uma disponibilização do sistema operativo aos fabricantes que por sua vez produzem as suas máquinas, pelo que demoram alguns meses até as colocarem no mercado. Isto é o que vai acontecer. Agora os tempos exatos…
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