Por mais que haja protestos, pessoas a questionar o investimento no evento desportivo, o tão falado “padrão Fifa” e a hashtag #NaoVaiTerCopa (https://twitter.com/_NaoVaiTerCopa) inundando o Twitter, o Brasil é hoje sede do evento desportivo com maior audiência do planeta. E mesmo com a fúria contra as exigências da Fifa, os brasileiros têm no coração uma bandeira verde amarela, que balança assim que a bola começa a rolar no campo.

A Arena Corinthians, popularmente chamada Itaquerão (em homenagem ao bairro de Itaquera, localizado numa das áreas mais carentes da maior cidade brasileira), onde teremos a abertura e a final do Mundial, faz parte de uma complexa estrutura tecnológica da qual os adeptos nem fazem ideia, mas que, se não existisse, poderia estragar o espetáculo.

No final de 2013, logo após a Taça das Confederações (evento que é considerado uma espécie de ensaio para o Mundial), o Consórcio Brasil Seguro ganhou o concurso público para fornecer a tecnologia necessária para os centros integrados de comando e controle, alocados nas 12 cidades-sede do Mundial de Futebol.

O contrato, fechado em Janeiro de 2014 com a Secretaria Extraordinária de Segurança para Grandes Eventos (Sesge), definiu que o Consórcio Brasil Seguro tem a responsabilidade do fornecimento de soluções de tecnologia de informação, serviços e infraestrutura aos Centros Integrados de Comando e Controle (CICC) – o projeto, orçado em 244 milhões de reais, faz parte da arquitetura de segurança pública que foi desenhada para o evento.

A vantagem oferecida pelos centros integrados é possibilitar que as tomadas de decisão sobre segurança pública sejam mais ágeis, pois os gestores da área conseguem saber, em tempo real, o que acontece em todas as sedes e como um potencial problema pode desencadear uma crise de maiores proporções.

O Consórcio Brasil Seguro, formado pelas empresas Agora Telecom, Comtex, Módulo e Unisys, teve que se desdobrar para cumprir o prazo apertadíssimo, que exigia a instalação dos centros nas cidades do Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Brasília, Cuiabá, Curitiba, Fortaleza, Manaus, Natal, Porto Alegre, Recife e Salvador. Tanto o Rio de Janeiro como a capital federal ganharam um data center adicional cada, que servirão como contingência e controle nacional.

Como explica Jorge Oliveira, gestor do Projeto Sistema Integrado, da Secretaria Extraordinária de Segurança para Grandes Eventos (Sesge) do Ministério da Justiça, o objetivo principal dos centros é reunir num único local operadores de diversos órgãos, como Polícia Civil, Polícia Militar, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Federal, Guarda Municipal e serviços de emergência, como Corpo de Bombeiros e Defesa Civil.

A grande diferença do projeto do Consórcio Brasil Seguro em relação aos realizados para outros eventos desportivos do passado é o legado positivo que ficará. Parte dos sistemas permanecerá mobilizada para suportar a segurança dos Jogos Olímpicos/Paraolímpicos de 2016 e parte será cedida aos Estados, por intermédio do Ministério da Justiça e pelos governos locais.

O grande desafio tecnológico das empresas envolvidas no Consórcio Brasil Seguro foi fazer o encadeamento harmonioso dos trabalhos. Da construção das instalações, seguindo os mais rígidos protocolos de eficiência, até “virar a chave”, foi um desafio hercúleo.

E não foi por falta de experiência. O grande problema, que estava totalmente fora do controle das empresas, foi o prazo. Foram poucos meses para implementar tudo. E houve tempo.

A brasileira Módulo Security Solutions, especializada em soluções para Governance, Riscos e Compliance, liderou o consórcio e usou sua experiência em projetos similares para avançar com o ambicioso projeto. Para Sérgio Thompson-Flores, CEO da Módulo, foi bom fazer parcerias com empresas de reputação e comprovada experiência. “ É o mais ambicioso e complexo projeto de Centros de Operações e Gestão de Grandes Eventos do mundo. Muito nos orgulha que o consórcio vencedor tenha sido liderado por uma empresa brasileira, com software e capital brasileiros, demonstrando, mais uma vez, nossa capacidade enquanto empresa e país em fornecer soluções inovadoras e de tecnologia de ponta”. A Módulo possui escritórios no Brasil, Estados Unidos, Reino Unido, Índia e atua em toda América Latina através de uma rede de parceiros.

Também brasileira, a Agora Telecom é especialista em radiocomunicação profissional e integradora de tecnologias para transmissão de dados, voz e imagem e atua no segmento de Segurança Pública e de grandes corporações. Segundo Vail Gomes, Diretor Comercial da Divisão de Segurança e Radiocomunicações da AGORA Telecom, o projeto é uma oportunidade para demonstração da competência dos fornecedores brasileiros. “Isso irá demonstrar a competência de nosso grupo na consolidação de tecnologias e equipamentos que contribuem para uma melhor gestão da segurança, para o atendimento ao público e para a manutenção da ordem”, destaca Gomes. A empresa tem vindo a consolidar novas tecnologias em redes IP, WLAN, Comunicação Unificada integrando Telefonia IP e Videoconferência, além de outras soluções como formação e capacitação policial, câmaras portáteis e deteção de materiais ilícitos.

Fornecedora de soluções de videovigilância, a Comtex é especializada no controlo preventivo de cidades, integrando câmaras de segurança e software de gestão, oferecendo uma visão global do que acontece às forças de segurança e empresas. Para Sergio Nercessian, CEO da Comtex , a iniciativa é um marco na história das quatro empresas envolvidas e demonstrará o quanto a indústria nacional evoluiu neste setor, competindo de igual para igual com todos os gigantes mundiais. “Temos ainda a vantagem de conhecer bem o nosso país e principalmente as capitais, pois a maioria já foi fruto de estudos e muitas delas já contam com algum dos nossos parceiros a fornecer algum serviço”, afirma. A empresa também é pioneira em videovigilância de centrais e possui o maior parque de câmaras instaladas numa universidade no Brasil, com mais de 800 unidades.

A multinacional Unisys é o elo final que forma o Consórcio Brasil Seguro. A empresa foi responsável pela infraestrutura convergente utilizada, composta pelo ambiente pré-configurado, pré-testado e composto por servidores, solução de virtualização de servidores e desktops, conectividade de rede e armazenamento. Agostinho Rocha, diretor-presidente para o Brasil e vice-presidente para América Latina da unidade de Tecnologia, Consultoria e Soluções de Integração (TCIS) da Unisys, explica a importância que o projeto representa: “Com mais de 90 anos de presença direta no Brasil e um histórico de projetos de missão crítica desenvolvidos para clientes do setor público, a Unisys orgulha-se em fazer parte deste projeto de extrema relevância para o país, que estará suportado por uma avançada infraestrutura de tecnologia da informação”. Também é de responsabilidade da empresa as soluções de alta capacidade de processamento gráfico, thin clients, impressoras, plotters e outros equipamentos e softwares de backoffice que fazem parte do ambiente.

Para Roberval França, Diretor Geral do Consórcio Brasil Seguro, o projeto representa o começo de uma transformação positiva. “Com os grandes eventos, surge para o Brasil a oportunidade de construir uma rede integrada de Comando e Controle. Trata-se de um novo conceito que irá habilitar as forças policiais do País a atuar num ambiente de colaboração, interoperabilidade e gestão compartilhada. Este projeto constitui o embrião de uma nova Arquitetura de Segurança Pública.”

Cada um dos Centros Integrados de Comando e Controle (CICC) conta com uma Sala de Operações, equipada com rede de dados, sistemas integrados de videowall, telefonia, radiocomunicação, atendimento e despacho, gerenciamento de eventos e videovigilância.

A Sala de Gerenciamento de Grandes Eventos e de Gerenciamento de Crise também possui sistemas de videoconferência, videowall, telefonia e rede.

A Sala de Inteligência possui, além da rede, infraestrutura e sistemas de inteligência.

O projeto também conta com rede de câmaras distribuídas pelas cidades, sensores de tiro e outros tipos de sensores e apoio de dispositivos móveis, como tablets, terminais de rádio e telefonia móvel.

A infraestrutura dos bastidores está lá, afinada para que o pontapé inicial seja dado e o espetáculo da bola comece. Agora é esperar pelo apito e deixar a bola rolar.

Jocelyn Auricchio

Atua como jornalista especializado em tecnologia há mais de 20 anos, escrevendo para as maiores empresas de mídia do Brasil, como Editora Abril e Jornal O Estado de São Paulo. Além de foco em cobertura B2B e B2C, tem especial interesse nos bits e bytes do mundo hacker. Entusiasta por tecnologia desde que conseguiu formular as primeiras frases, está em busca de um mítico notebook para jogos com grande autonomia de bateria. Acredita em café bom, chocolate amargo e comida decente.

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