Toyota “ajuda” Grenoble a materializar projeto de mobilidade urbana
Pode não ser simples de pronunciar, mas o “Cité Lib by Ha:mo” pode muito bem vir a revolucionar o conceito de cidade tal como hoje o conhecemos. Este novo tipo de mobilidade urbana baseia-se na partilha de veículos elétricos ultracompactos que estão intimamente interligados a uma infraestrutura de Tecnologias de Informação, neste caso da rede de transportes de Grenoble. Para já, está disponível apenas nesta cidade francesa mas quem sabe, um dia, possa vir a ter como palco Portugal.
É o único projeto do género. E não só de França, não só da Europa, mas também do mundo. O “Cité Lib by Ha:mo” foi apresentado aos jornalistas que se deslocaram a Grenoble como um inovador serviço de partilha de automóvel. E que visa, basicamente, preparar a cidade e a área metropolitana desta cidade francesa para a mobilidade elétrica num contexto de um plano de mobilidade multimodo. O projeto, centrado em três anos de testes, tem uma característica que o torna complicado replicar em outras geografias já que junta nada mais, nada menos do que cinco parceiros: a cidade de Grenoble, a Área Metropolitana, a empresa francesa de eletricidade EDF e a sua afiliada Sodetrel, a Toyota e a Cité Lib, o operador local de partilha de automóvel.
Mas o que torna efetivamente este projeto inovador, se já existem, nomeadamente em Portugal, serviços de partilha de automóvel e até interligados com os transportes públicos?
Primeiro, obviamente, pela dimensão do projeto. Depois, porque os veículos, assim como as suas estações de recarga, estão intimamente interligados à infraestrutura de Tecnologias de Informação da rede de transportes de Grenoble. Uma plataforma que permite a planificação de rotas e de reservas online via internet ou por telemóvel com uma aplicação específica.
Outra característica inovadora é que os utilizadores podem usar um dos 70 veículos disponíveis e deixá-lo em qualquer estação próxima do seu destino sem que o tenham de devolver ao local onde o começaram a conduzir. E apenas vão pagar o tempo de deslocação.
Uma forma diferente de conduzir
O programa dispõe de 35 Toyota i-Road, um número que o próprio fabricante automóvel revelou ser o mais elevado em todo o mundo. Este veículo, que a “B!T” teve o prazer de experimentar, tem uma condução ligeiramente diferente de um “tradicional” automóvel, pois tem três rodas. Na verdade, é quase como conduzir uma scooter e faz lembrar quase os movimentos de esquiar, apesar de manter o conforto e a proteção tal como num automóvel. A estes 35 veículos de três rodas, juntam-se outros tanto de quatro rodas (Toyota Auto Body COMS) que irão igualmente participar neste projeto.
Mais coisas diferentes. Bem, este serviço elimina a necessidade de procurar um lugar de estacionamento. Por outro lado, o caráter compacto destes veículos torna mais fácil a planificação e construção de infraestruturas de parqueamento assim como a sua desenvoltura em trânsito urbano.
A juntar a tudo isto, o projeto contempla ainda 27 pontos de recarga instaladas e operadas pela Sodetrel – incluindo viagens de um percurso só, por exemplo de uma estação para outra. Ao que tudo indica um total de 120 pontos de recarga no âmbito deste projeto e outros 41 para veículos híbridos plug-in vão ser acrescentados à infraestrutura de transportes da cidade.
Em termos de plano de custos, as empresas optaram por um modelo bastante simples, denominado “3, 2, 1 euros”. Ou seja, os primeiros 15 minutos custam três euros, os segundos dois euros e o terceiro quarto de hora e seguintes, um euro. Para os portadores de passes anuais de transporte local o preço será reduzido, para “2, 1”. Dois euros para os primeiros 15 minutos e os seguintes serão a um euro.
Obviamente que este tipo de serviço será sempre uma solução para pequenas deslocações – incluindo deslocações de apenas um sentido.
Neste projeto, a Toyota não contribui apenas com os 70 veículos elétricos. É igualmente responsável pelo sistema de gestão da partilha de automóveis – chamado Ha:mo (Harmoniosa Mobilidade) – que tem vindo a ser testado na cidade-natal de Toyota City, no Japão.
A Cité Lib vai a empresa responsável pela gestão diária operativa de todo este novo serviço. Esta empresa tem um histórico de gerir um serviço de partilha de automóveis em Grenoble há já 10 anos (com 80 veículos, a gasolina, híbridos, a gás natural e elétricos). Os 35 i-Road e os COM vão basicamente duplicar a frota e oferecer um tipo de serviço diferente para os seus assinantes. “As principais vantagens para os nossos clientes e para os novos utilizadores vão ser a possibilidade de levantar e devolver os veículos em locais diferentes e também a flexibilidade de dispor de um veículo muito compacto para pequenas deslocações.”, explica Martin Lesage, Diretor da Cité Lib.
Terá sentido este projeto fora de Grenoble?
Em Grenoble percebemos que foi criado o palco ideal para esta, vamos-lhe chamar, experiência. Fará sentido este projeto em Portugal, por exemplo? Filipe Sousa Campos, diretor-geral de marketing e vendas da Toyota Caetano Portugal, admitiu à “B!T” que o interesse existe e a recetividade das autoridades responsáveis pelas cidades lusas também é notória. A dificuldade será, diz este responsável, congregar os diferentes parceiros, de resto um dos aspetos críticos e inovadores do projeto. “Aqui houve uma integração perfeita de vários parceiros. Claro que a congregação de tudo isto é o mais complicado. Mas é algo que é viável, eventualmente adaptado ao nosso mercado e à nossa cultura”.
Um aspeto pelo qual este projeto se torna ainda mais interessante do ponto de vista da Toyota é que também aqui está a ser testado o conceito do i-Road, apresentado há dois anos no Salão de Genebra e que ainda não tem comercialização prevista. “É precisamente aqui que também a Toyota vai aferir da recetividade dos utilizadores, dos potenciais clientes a este conceito. E, porventura, colher alguns ensinamentos desta experiência no sentido de aperfeiçoar e melhorar o produto, uma prática que na Toyota é comum. O claro exemplo disso foi o Toyota Prius Plug-in, que também, durante três anos, passou por um processo de teste à escala real”.
A verdade é que, hoje, o mercado já abraça vários conceitos de híbridos que começam agora a ter um maior relevo no próprio negócio dos construtores. “É um trajeto longo, desde 2000 quando foram introduzidos na Europa. O arranque foi lento, em Portugal, mas atualmente a sua aceitação é bastante interessante e, sobretudo, notamos claramente que tem vindo a crescer”, explicou Sousa Campos.
Claro que para isso também contribuiu o facto da oferta ter vindo a aumentar. “Atualmente, temos seis viaturas híbridas Toyota e mais seis na marca Lexus, pelo que cobrimos uma ampla gama de utilização e faixas de preços, satisfazendo um grande leque de clientes. Fruto disso, o incremento das vendas tem vindo a acelerar. Já nem sequer podemos dizer que é residual. Em termos europeus, representam 25% das vendas – em alguns países já ascende os 30% – e em Portugal estamos próximos dos 15%”. Sousa Campos adiantou que este valor, o ano passado foi de cerca de metade ou seja, a venda dos híbridos terá sido de 7%. “O mercado português tem a característica de estar muito focado nas viaturas diesel, em particular no mercado empresarial que tem um peso bastante significativo, pelo que há alguns aspetos culturais e de mentalidade que há que ajustar… e demora o seu tempo. Mas o processo tem vindo agora a acelerar e já não podemos dizer que são um nicho. No caso do Auris, uma viatura do segmento C, as vendas estão próximas dos 20%”.