Portugal é um dos países que lidera o mercado europeu das Telecomunicações, que poderá estar na origem da revitalização económica, embora careça ainda de uma sólida base de investimentos e de um forte apoio governamental. Esta foi uma das principais conclusões apresentadas no decorrer do 24º Congresso das Comunicações, onde foram abordados os desafios que têm afetado o setor das Telecomunicações, e aqueles que poderão vir a obstaculizar o seu progresso.
O primeiro orador da 24º edição do Congresso das Comunicações foi Rogério Carapuça, presidente da APDC – Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações, que revelou que apesar de Portugal ocupar um lugar na vanguarda da inovação no campo das Telecomunicações, são precisos ainda fortalecer os investimentos em Tecnologias de Informação e I&D (Investigação e Desenvolvimento), que atualmente encontram-se atrás da média europeia.
Numa segunda intervenção, Luís Marques Mendes, na qualidade de presidente do 24º Congresso das Comunicações, declarou que os países mais desenvolvidos do mundo serão aqueles que maiores apostas fizerem na tecnologia do conhecimento. O político sublinhou ainda a resiliência do setor das Telecomunicações face à austera conjuntura que assola Portugal. “Este setor respira pujança, ousadia, para além de todas as dificuldades”, comentou.
O momento foi, adicionalmente, marcado pela presença do Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, que referiu que o Congresso proporciona uma privilegiada oportunidade para discutir o papel das Tecnologias da Informação e da Comunicação nos diversos setores de atividade económica, afirmando, ademais, que até 2020 as TIC poderão “acrescentar quatro por cento ao produto europeu”.
Apesar de atualmente estimar-se que 35 por cento da população portuguesa não utiliza ainda a Internet, o Comandante Supremo das Forças Armadas avançou que Portugal figura na segunda posição dos países europeus com a mais forte cobertura de redes de telecomunicações de quarta geração.
Cavaco Silva evidenciou também o papel que a Economia Digital poderá desempenhar na recuperação financeira do país, alvitrando que esse retorno à sustentabilidade poderá passar pela aposta na inclusão digital. “Podemos encarar o futuro da Economia Digital, entre nós, com esperança e confiança”, afirmou o Presidente da República.
Tendências para economia portuguesa
Debruçando-se sobre as tendências económicas que redesenharão a cena nacional, o economista Vitor Bento, cuja apresentação subordinou-se ao tema “Demografia, Tecnologia e Desigualdade”, avançou que “temos pela frente uma estagnação económica”, transversal a todos os setores.
Depois de avançar que o crescimento económico está inerentemente dependente do devido aproveitamento do potencial da economia, Vitor Bento apontou três elementos que ditarão o crescimento futuro: Demografia, Tecnologia e Desigualdade.
O primeiro aspeto prende-se com o inegável envelhecimento da população portuguesa e a consequente diminuição da população em idade ativa, resultando numa maior taxa de poupança, num reduzido volume de investimentos e num défice da procura.
No que concerne à esfera da Tecnologia, o economista avançou que as TIC desempenham a função de motor da eficiência e da produtividade, pelo que é uma área que deve colocar-se como alvo de sólidos e contínuos investimentos.
As discrepâncias socioeconómicas, reflexo de uma economia de mercado austera, têm vindo a obliterar a classe média, concentrando a riqueza em restritos nichos e potenciando o endividamento das famílias de classes mais baixas. Adicionalmente, a Tecnologia vem exacerbar as diferenças já existentes entre os indivíduos digitalmente letrados e aqueles para quem o universo do código binário é ainda um pesadelo.
Europa Digital e Política
O comentador político António Vitorino apontou que a Europa entre os próximos três e cinco anos continuará a ser fustigada por ventos de “inconstância, insegurança e instabilidade”, acrescentando que nos tempos vindouros o Bloco dos 28 será confrontado com as suas próprias limitações em matéria de segurança (conflitos internos que dividem a Europa e que colocam em xeque a própria integridade de alguns Estados).
António Vitorino preconizou o apogeu daquele que é o coração económico da Europa, evidenciando também que o crescimento do continente deverá assentar no setor energético, na Economia Digital e na generalização do mercado dos serviços.
A Europa tem vindo a deixar de poder usufruir de uma forte capacidade de inovação tecnológica, perdendo para a hegemonia norte-americana a liderança nos serviços de TI, disse o político.
Por seu lado, Portugal deverá sofrer uma maior cisão partidária, o que resultará numa acrescida instabilidade governativa, que ecoará pelos múltiplos setores de atividade económica.
Perspetivas sociais futuras
A socióloga Maria João Valente, ao assumir a palavra, apontou que Portugal representa somente dois pontos percentuais do total da população da Europa, e que, de acordo com dados de 2011, o nosso país “à beira-mar plantado” é o sexto mais envelhecido do mundo.
Diretora da PorData, Maria João Valente asseverou que Portugal tem registado um défice na Educação, visto que, por exemplo, 67 por cento dos trabalhadores não concluiu o Ensino Secundário, face a uma média europeia de 27 por cento. A taxa de desistência escolar diminuiu em Portugal, mas continua acima da média da Europa.
Futuramente, disse a socióloga, denotar-se-á a continuidade do acentuado e rápido envelhecimento da população portuguesa, tendência que persistirá até 2060, mesmo que a taxa de natalidade aumente.
Apesar destas estimativas menos animadoras, Maria João Valente assegurou que “Portugal não tem de morrer de velho”.
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