SAP aposta na informação preditiva

Até há bem pouco tempo só se falava na necessidade dos executivos terem acesso à informação de negócio em tempo real para desta forma melhor poderem tomar decisões. Mas isso parece já não chegar. Agora há que ter acesso à informação que permita prever o mercado para assim, a tempo, as empresas poderem reagir. Em Londres, Sven Denecken, vice-presidente da SAP Cloud Strategy, conversou com a B!T Magazine e explicou até que ponto a computação em nuvem e a tecnologia in-memory Hana pode ajudar a prever o “futuro”.

Qual é o real valor do negócio por detrás do cloud computing?

É tudo uma questão de inovação e agilidade. Como posso, de forma rápida, mudar ou adaptar o meu negócio a ambientes que estão em permanente transformação? A verdade é que o CEO deve olhar para o CIO não como um “information officer” mas como um “innovation officer”. Para além de que o cloud computing é muito apelativo porque consegue entregar mudanças rápidas. No fundo, a computação em nuvem é a combinação de velocidade, inovação e agilidade.

Mas a verdade é que este conceito já existia. Não é novo. Estou a lembrar-me dos ASP, por exemplo. Ou estou errada?

Muitos conceitos que estão hoje em voga já existiam antes. Hoje, no cloud computing, o que acontece é que há tecnologia para suportar o conceito. Algo que antes provavelmente não existia. Hoje, existe tecnologia para gerir um negócio em tempo real que não era possível por exemplo no caso que mencionou dos ASP. Atualmente, a complexidade está reduzida e é verdadeiramente possível gerir em tempo real. Além de que já não é necessário um investimento massivo em tecnologia e encetar um projeto muito longo. As empresas podem começar a consumir muito rapidamente e com um investimento muito reduzido.

E a verdade é que as empresas estão cansadas de investir…

Sim, porque muitas vezes o investimento faz sentido mas demora demasiado tempo a obter os resultados esperados. Quando falamos em colaboração interna, também falamos em colaboração externa, redes de negócios. Se reparar, há quatro anos falávamos em marketplaces. Mas, se formos a ver, apenas dois vingaram: o da indústria automóvel e o da indústria química. Todos os outros “morreram” porque não conseguiram “escalar” suficientemente rápido. E é aqui que o cloud computing pode ajudar.

Já não chega ter informações em tempo real

Na sua apresentação falou que hoje já não chega ter acesso à informação em tempo real…

É verdade, não chega. E acredito que esta vai ser a grande tendência do futuro. Eu quero mais do que ter a informação em tempo real. Eu quero prever o que vem a seguir. Dou-lhe um exemplo muito simplista. Sou um retalhista e sei que vai chover em Londres, se eu tiver a minha cadeia de distribuição preparada posso fazer com que os bens sejam entregues antes de a necessidade acontecer. A ideia de otimização que muitos CEO estão a estudar é não só o em tempo real mas informação preditivas. Porque isso, no final, vai-se converter em eficiência.

VE – Até que ponto Hana veio alterar as regras do jogo para a SAP e como se querem diferenciar dos restantes players?

Acreditamos que em três anos a tecnologia in-memory vai ser standard na nossa indústria. Só falaremos disto. Aliás, os nossos concorrentes acabaram por nos dar razão. Todos começam a ver o valor de negócio que esta tecnologia pode trazer. Mas há diferentes maneiras de fazer in-memory. Nenhuma outra tecnologia está, neste momento, realmente a ligar as capacidades analíticas e transacionais na mesma base de dados. Todas as outras tecnologias têm as capacidades analíticas de um lado e as transacionais de outro e é preciso muito hardware e muitos servidores para que as coisas funcionem. Acreditamos que não tem de ser assim. Aliás, neste momento eu não queria estar no negócio do hardware… Porque eu quero a tecnologia in-memory otimize os sistemas, quero menos hardware, menos serviços. E aqui volto a uma das suas perguntas. Temos hoje a tecnologia? Sim, temos essa tecnologia para adaptar os nossos sistemas a um novo comportamento. Os budgets de TI têm três camadas: hardware, software e serviços. Esses budgets estão a descer, não é novidade. A questão é, como posso ajudar? A nossa diferenciação é propor uma redução no investimento de hardware. Depois, redução nos serviços. Porque ao reduzir a complexidade também não são necessários tantos serviços.

Nem tudo tem de ir para a nuvem

Mas hoje o que leva uma empresa a investir em cloud? Ainda é a redução dos custos, até porque as economias europeias não estão propriamente muito prosperantes…? Ainda olham para o retorno do investimento?

Há regiões que adotaram cloud bastante mais cedo, como é o caso dos Estados Unidos e mesmo do Brasil ou da China e da Índia. Estes países deverão ter entre 12 a 18 meses de avanço na adoção de soluções de cloud. Esses países estão a desligar-se do TCO [total cost of ownership] e já entenderam que agilidade e a inovação que a computação em nuvem permite vale muito mais do que o puro custo. Na Europa, onde realmente estamos mais atrasados na adoção da nuvem, o que atualmente discutimos – ao contrário de há um ano, onde se questionava a segurança da cloud, ou se a nuvem era um conceito para ficar – é no resultado que traz ao negócio. O que podemos atingir com a computação em nuvem?

Mas há ou não pressão para que os clientes se movam para a cloud?

Não. Não somos ingénuos ao ponto de acreditar que tudo vai para a nuvem, sobretudo para a nuvem pública. Óbvio que existem as nuvens privadas mas isso é outra abordagem. Há que ter o correto “mix”, a escolha correta. E fazer a escolha correta é que é a real proposta de valor. Nem tudo o que é “on-premise” é mau nem tudo o que é cloud é bom. Há que analisar o cliente. Se há coisas que funcionam não há porque mudar.

 

 

Susana Marvão, em Londres

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