Os financeiros em geral e os presidentes executivos em particular não gozam do luxo da moral para justificar atos. Os melhores entre eles são os que reagem mais depressa às mudanças e delas tiram partido pessoal ou para as suas empresas. Os outros são os que perdem. A moral é privilégio da assistência.
Nesta altura, contudo, não é o moralismo sobre os dinheiros públicos expostos ao escândalo GES / Rio Forte / PT / Oi, nem o orgulho pátrio de um ou outro lado do Atlântico, nem a inobservância das regras ou o cumprimento dos castigos respetivos que nos trará informação útil sobre o caso. Talvez mais tarde sirva de alguma coisa para a História. Por agora mais vale procurar quem ganha e quem perde com a mudança de cenário.
O que mudou? A exposição da CorpCo ao Grupo Espírito Santo através da participação na Rioforte. Não apenas se soube agora que o grupo está em maus lençóis, ao ponto de ameaçar a economia portuguesa através do banco que foi o instrumento financeiro da família Espírito Santo para operar negócios privados e para se imiscuir na administração pública portuguesa num trabalho ao longo de décadas, regimes e governos.
Soube-se também algo que não fez parte das contas na negociação entre Oi e Portugal Telecom: a participação da PT na Rioforte foi reforçada este ano até aos 900 milhões, decisão que surge imprópria aos olhos da Oi até porque foi tomada individualmente pelo chairman da PT, sem ter passado pela direcção.
Acresce que a Rioforte já devia ter devolvido parte desse reforço de capitais e ainda não o fez, provocando um surto de nervoso miudinho nos acionistas. Se descambará ou não em doença perene, logo se verá.
A Oi — melhor dizendo, a parte brasileira da CorpCo — sai a ganhar. Saltou imediatamente em cima da decisão do chairman da Portugal Telecom, Henrique Granadeiro e conseguiu duas vantagens. Uma imediata, a outra é uma carta fechada.
A primeira: obrigou à revisão dos termos de troca da fusão, com a redução da participação da PT de 38% para 25,6% do capital da CorpCo. A PT só poderá aumentar a participação até à percentagem anteriormente acordada se entretanto for reembolsada pelo Grupo Espírito Santo.
A segunda: caído em desgraça (ou cilindrado pelos pares portugueses, tanto faz), Henrique Granadeiro não fará mais parte da administração da nova empresa.
Entre os ganhadores está também Ricardo Espírito Santo: alguém pagará os seus erros e a fatura dos desvios. Perde poder? Sim. Tudo acaba, mais tarde ou mais cedo. Mais vale acabar por cima.
Quem perde é, naturalmente, a parte portuguesa da futura mega-empresa: a Portugal Telecom vê-se subitamente empobrecida num “casamento” em que apostou a sua vida.
E Henrique Granadeiro? As contas são mais complexas. Os 71 anos são uma ótima idade para um gestor da sua estirpe se reformar — o que, no seu caso, significa dedicar-se em exclusivo às suas próprias empresas, que tem gerido aos fins de semana. É também uma idade em que os valores pessoais — a amizade, o compromisso, a gratidão — conquistam importância aos valores empresariais.
Calculo que pareça estranho aos sócios brasileiros da CorpCo. Já os sócios portugueses estão habituados a uma cultura empresarial opaca, fortemente dependente de ligações familiares e cosida ao mais alto nível com o Estado, que é suporte, garantia e aliado. Só o próprio Granadeiro poderá explicar o que o levou a socorrer um acionista em particular, desestabilizando — para dizer o mínimo — os dois grupos numa altura de fusão. Ele sabia que estava a colocar o seu cargo em risco. Eu acredito que teve as melhores razões: as dele.
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