Primavera BSS: Cloud computing é o novo paradigma tecnológico

Estamos perante um novo paradigma tecnológico que é completamente revolucionário, disse à B!T José Dionísio, CEO da Primavera BSS, empresa portuguesa com mais de 20 anos de experiência no mercado de software de gestão. Para este responsável, o Cloud Computing inclui uma rutura tecnológica maior do que a que deu origem à Primavera em 1993: a criação de software em ambiente gráfico, em Windows. “Apesar de tudo, era software de faturação, de contabilidade, a correr num sistema operativo diferente. Ponto. A cloud veio acrescentar uma série de outras vertentes ao negócio e abre possibilidades que não existiam naquela altura”.

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B!T – Recentemente divulgaram os vossos resultados de 2014 que evidenciaram um crescimento de 9% face a 2013. Resultados muito impulsionados pela vertente internacional. Aliás, recentemente, abriram uma sucursal no Dubai. Como surgiu essa oportunidade? Foi algum cliente que se deslocou e vocês acompanharam o seu negócio?

José Dionísio – Não. A abertura do Dubai foi o resultado da nossa exploração do mercado. O country manager que hoje está a gerir o negócio local, Jorge Marques, responsável por todo o território africano, fez uma pesquisa no Dubai e entusiasmou-se com os Emirados e com os níveis de crescimento que aquela região apresenta. Além de que do ponto de vista do produto há muita similaridade já que ali não há praticamente fiscalidade. O que quer dizer que tivemos que “esconder” a fiscalidade dos nossos produtos, o que tem um custo residual. É por isso um mercado particularmente interessante.

 B!T – Como tem sido a aceitação?

JD – Ainda estamos a tentar perceber. Apesar de tudo o Jorge Marques já começou a contactar com o mercado há quase um ano. Mas é um mercado onde imperam as empresas estrangeiras. Há centenas de milhares de empresas nos Emirados e no Dubai mas há uma população local que é muito residual. Só 5% da população do Dubai é que é dali. De resto, são emigrantes.

B!T – Vocês já estão presentes em imensos países. Há algum que seja mais desafiante? Lembro-me que por exemplo o mercado espanhol era particularmente difícil…

JD – E continua a ser. O processo de internacionalização está a decorrer. No nosso plano estratégico de 2013 prevíamos que em 2015 60% do nosso volume de negócios fosse feito fora do mercado português. Passamos agora para 45%. Por isso, estamos a crescer, não sei se vamos atingir os 60%, não é isso o mais importante, o que interessa é que haja uma tendência desse crescimento e está a acontecer.

B!T – Em 2013 os mercados tinham representado que peso no volume de negócios?

JD – Cerca de 40%. Deixe-me realçar que o crescimento lá fora não está a ser feito à custa do não crescimento em Portugal. Continuamos crescer aqui.

B!T – O ano passado já notaram alguma recuperação deste mercado cá em Portugal?

JD – Já. Repare, as software houses nesta área da gestão são umas das empresas que acabaram de alguma forma por beneficiar com a presença da Troika que transformou o sistema fiscal e ao qual nós tivemos que dar resposta e as empresas tiveram que aderir a todo um conjunto de legislação…

B!T – A Troika foi “amiga” das software houses?

B!T – Bem, acho que não porque sempre que estamos a desenvolver em prol da área fiscal não estamos a desenvolver e investir em muito valor acrescentado para as empresas. Basicamente estamos a tentar encontrar os cadeados para que a economia paralela desapareça. Mas temos feito coisas fabulosas. Hoje temos um sistema fiscal digitalizado como pouco países do mundo. Uma coisa fantástica e creio que muito seguido por exemplo por Espanha. Porque nos últimos cinco anos houve uma completa reviravolta na forma como as empresas lidam com a declaração dos seus rendimentos e das suas despesas.

B!T – Portugal é um exemplo a seguir?

JD – Absolutamente. É tão significativo aquilo que se fez que caminhamos para um ponto que o sistema estará todo ele fechado, digitalizado. Mesmo ao nível do cidadão. Já se anunciou que para 2016 já não teremos que juntar papéis e ao estarmos a pagar qualquer coisa nas nossas vidas, enquanto cidadãos, estaremos automaticamente a fazer a declaração de IRS. Já sabíamos que isto era possível há cinco, sete ou dez anos. Tecnicamente é possível, era apenas uma questão de vontade política. E a verdade é que estamos a dar estes passos, essenciais para que haja transparência no mercado e uma concorrência salutar.

 B!T – Há 21 anos que operam no mercado nacional das Tecnologia de Informação. Hoje de que forma os vossos clientes estão diferentes?

JD – Hoje a nossa relação com os nossos clientes é feita com base numa prestação de um serviço que tem um pagamento anual e por isso não está sempre sobre a mesa a decisão se vão ou não investir num produto ou num upgrade. Porque tudo isso está pago por natureza, o “fee” anual contempla tudo isto. Por isso, aquele aspeto mais psicológico do “compra não compra” o upgrade por 50 ou 100 euros – como era há 10/15 anos quando o mercado entretinha-se mais a tomar decisões dessa dimensão do que a evoluir no negócio – acabou.

 B!T – Hoje é obrigação a Primavera responder às exigências do Estado a tempo e horas. Ponto.

JD – Ponto.

B!T – O Estado tem-vos dado tempo?

JD – Também a esse nível já foi muito pior. Aliás, hoje estamos a conseguir dialogar com as entidades que estão a promover as alterações no sentido de nos coordenarmos para a possibilidade das mesmas serem feitas. Longe vão os tempos, há 15 anos, em que o Estado legislava um determinado formato em que o papel nem sequer cabia nas impressoras. Esqueciam-se desses pormenores. A Primavera faz hoje parte dos processos de reflexão e análise que as autoridades que estão nesta área desenvolvem e consultam-nos para afinarmos o que é possível ou não fazer. Os prazos são algumas vezes extremamente exigentes mas neste momento não nos queixamos do estado de coisas a esse nível. Repare, já houve um tempo em que nem sequer tínhamos informação. Chegava tardiamente, sabíamos que ia haver alterações mas os formatos das mesmas, a informação que estaria nesses novos mapas ou magnéticos… e tínhamos de colocar tudo a tempo nas empresas.

B!T – Mas também a esse nível mudou muita coisa.

JD – Claramente. Há cinco anos eram precisos 400 parceiros fazerem viagens de automóvel e irem às empresas instalarem as novas soluções. Hoje, temos sistemas de auto-update. Durante a noite o processo é feito e no dia seguinte as mais de 20 mil empresas que temos recebem o nosso software de forma automática. Isso ajuda muito. Aliás, antes era muito mais o tempo que demorava a instalar o upgrade do que propriamente a fazê-lo. E era um tempo que quem legislava não contava.

B!T – Em termos de fiscalidade as coisas acalmaram.

JD – Sim, mas nunca se sabe o que vem ai. Mas acalmaram pelo que podemos voltar a estar concentrados em evoluir os nossos produtos no sentido da cloud e do valor acrescentado para os nossos clientes.

B!T – Cloud, big data, analytics, o negócio sofreu uma grande transformação nos últimos anos apesar de muitos destes conceitos não serem novos.

JD – Sim, estamos perante um paradigma tecnológico que é completamente revolucionário. Inclui uma rutura tecnológica maior do que a que deu origem à Primavera em 1993 que foi o Windows. Na altura, justificamos o aparecimento da Primavera por causa de uma rotura tecnológica que foi o software em ambiente gráfico, Windows. Mas, apesar de tudo, era software de faturação, de contabilidade, a correr num sistema operativo diferente. Ponto. A cloud veio acrescentar uma série de outras vertentes ao negócio e abre possibilidades de negócio que não existiam naquela altura. Este é um excelente momento para aparecerem novamente empresas de garagem, futuras Primaveras…. Se as Primaveras não estiverem atentas. Dito isto, é um momento muito exigente para as software houses que estão no mercado. Porque têm manter todo o seu legado e começar um projeto de novo…

B!T – E como é que isso se faz?

JD – Faz-se à custa de muito investimento. Em pessoas, claro. Porque gostávamos de ter o dobro da equipa… Uma para manter o legado e fazê-lo evoluir – o Windows vai aqui estar pelo menos mais 10 anos – e outro para novos projetos. Estamos a construir um ERP desde o zero para a cloud. No meio, ficam os sistemas híbridos, que são fantásticos. Ou seja, os clientes que têm soluções on-premise e que estão instaladas em Windows, vão passar a ir à cloud buscar serviços que lhes vão trazer informação, que os vão ligar uns aos outros. E isso não deixa de ser cloud. Simplesmente eles continuam com as suas soluções dentro das suas empresas. Por outro lado, é curioso ver que por exemplo 52% dos novos escritórios de contabilidade já aderiram a um sistema SaaS. Utilizam o software na cloud. Em Windows mas de forma virtual. Não compram o nosso produto para instalar nas suas casas, pagam uma renda mensal.

B!T – Hoje as empresas, nomeadamente uma PME portuguesa, já “acredita” na cloud ou ainda há algum entrave cultural a não ter as coisas dentro de “portas”?

JD – Tem havido uma franca melhoria, hoje é muito mais fácil falar com os clientes do que era há um ano ou dois, eles vão estando gradualmente mais informados. Mas continua a haver alguns tabus. O escritório de contabilidade considera que tem a informação dos seus clientes, da sua empresa, melhor protegida dentro das suas instalações onde com um simples pontapé alguém entra, pega na máquina debaixo do braço e leva toda a informação do que ter esses dados algures num datacenter que lhes garante todas as redundâncias e toda a segurança. Mas isso é uma questão de tempo. Acredito que a determinada altura eles vão ter mesmo de considerar a mudança que é quando tiverem de fazer um investimento em hardware.

B!T – Mas por exemplo, ainda é pequena a percentagem dos vossos clientes que transitou?

JD – Sim, ainda é pequena. Até porque essa transição aparece no momento da conquista de um novo cliente. Ou seja, uma das razões pelas quais os clientes escolhem a Primavera é porque tem todos os seus produtos em SaaS. Um setor que é visto como muito tradicional, como o dos escritórios de contabilidade, tem os seus novos gabinetes a nem sequer questionarem a adoção à utilização através da Internet.

B!T – O fantasma da segurança terminou.

JD – Está a desaparecer. Apesar de haver empresas, nomeadamente escritórios de grande dimensão, que têm investimentos mais recentes e que têm primeiro de os amortizar. Nesses, só mais tarde chega o momento de fazer essa opção. Porque se há três ou quatro anos a indústria andava toda a falar de como era mais barato, hoje há modelos de trabalho e de negócio que só acontecem se os dados dos clientes e do próprio escritório estiverem no mesmo sítio. Por exemplo, um escritório que está a utilizar as soluções na cloud tem os seus clientes a fazerem as suas faturações na mesma base de dados. Por isso, os escritórios que usem SaaS abrem contas para os seus clientes faturarem. O cliente está a faturar e automaticamente a fazer a contabilidade. O que quer dizer que os escritórios deixam de fazer contabilidade para “apenas” verificarem e aprovarem as contas. O que quer dizer que um técnico que provavelmente conseguia responsabilizar-se por 15 ou 20 escritas, neste momento facilmente se responsabiliza por 40. A contabilidade está a ser feita de forma automática. Isto só é possível se as bases de dados, nomeadamente das vendas e dos salários, estiverem a ser partilhadas com o escritório e a gravarem no mesmo sítio. E isto é possível com cloud. Isto vale muito mais do que os 20% ou os 30% que tem sido o argumento utilizado na componente do hardware. Quando o argumento é só o custo, vale o que vale.

B!T – Entretanto, mudaram de instalações, radicalmente diferentes. Um edifício com uma localização muito mais atrativa, restaurante, espaços de lazer…

JD – Sim. O novo espaço veio trazer um novo ânimo aos colaboradores e adapta-se à visão e necessidades do que hoje é a Primavera. Sinceramente, sabíamos que ia ter impacto nas pessoas, mas nunca pensamos que tivesse tanto. Estamos aqui há sensivelmente seis meses e tem sido uma agradável surpresa.

 

Resultados da Primavera em 2014

A Primavera BSS alcançou, em 2014, um volume de negócios consolidado de 19,5 milhões de euros, o que correspondeu a um crescimento de 9% face a 2013. O EBITDA (resultados antes de juros, impostos, amortizações e depreciações) registou um crescimento de 4% relativamente ao ano anterior, tendo-se fixado, em 2014, nos 4 milhões de euros, o que representou 21% do volume de negócios alcançado.

A atividade internacional da tecnológica portuguesa contribuiu com 8,3 milhões de euros para o total do volume de negócios alcançado em 2014, o que representou um peso de 45%. A Primavera está presente em Espanha, Angola, Moçambique, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Emirados Árabes Unidos, tendo estes mercados registado um crescimento de 14% face a 2013.

O ano de 2014 ficou marcado pela entrada no Médio Oriente, com a abertura de uma sucursal no Dubai; pela mudança para uma nova sede em Braga, numl investimento de cerca de 6 milhões de euros; e pelo lançamento da versão 9 do ERP Primavera, uma versão suportada por tecnologia híbrida que oferece às empresas o melhor de dois mundos: a instalação local do software e a sua integração com a Cloud, potenciando a conetividade entre empresas e o acesso a um conjunto de serviços disponibilizados em ambiente Cloud.

Nos próximos três anos, a empresa espera concluir o desenvolvimento do seu novo ERP em tecnologia 100% web, e transformar gradualmente os seus modelos de negócio em função de uma realidade que assume de forma crescente a utilização do software como uma prestação de serviços.