Qualquer pessoa pode aceder ao inquérito, que está
disponível online aqui, e só tem de responder a duas questões: quantas pessoas conhece na sua área geográfica e quantas destas apresentam sintomas compatíveis com
COVID-19 (ou foram diagnosticadas com esta doença)? A resposta é anónima e, ao contrário de outros inquéritos, não é perguntada à pessoa qual a sua situação em relação à doença.
Os dados são depois tratados e processados para eliminar respostas com valores discrepantes, usando técnicas estatísticas. Finalmente, são comparados com outras estimativas, que inferem o número de casos a partir da evolução da mortalidade que é reportada nos dados oficiais e da sua relação com a mortalidade dos casos reportados em Wuhan (cerca de 1.4%), para validar a sua precisão. Para Carlos Baquero, que faz parte do grupo de investigadores do estudo designado “Medir o Iceberg”, a vantagem deste método é a sua simplicidade, proximidade com os casos reais e anonimato.
“Ao contrário da simples observação do número de casos confirmados e reportados nos dados oficiais, e que têm sempre alguma dependência dos números de testes efetuados a cada dia, a nossa análise baseia-se num questionário à população. Embora as nossas estimativas não sejam totalmente precisas, espera-se que estejam na mesma ordem de magnitude do valor real, dando-nos uma perspetiva mais próxima do potencial de casos existentes que não foram identificados para testes. O que temos observado é que as estimativas são muito semelhantes a outros métodos indiretos utilizados”, afirma o investigador do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC TEC) e professor na Universidade do Minho.
Os resultados são atualizados diariamente e podem ser vistos
aqui. O estudo não fornece apenas um número diário total de infetados sintomáticos, mas também permite observar a evolução da doença.
Em Espanha, país onde o estudo começou e é liderado, os dados do dia 6 de abril apontavam para cerca de três milhões de casos, número muito superior ao oficial do governo estimado naquele dia em 130 mil, mas mesmo assim inferior a um estudo do
Imperial College que apontava 15% da população infetada, das quais uma parte serão casos com sintomas.
Em Portugal, os dados do dia 6 de abril sugerem 84 mil casos (margem de erro na ordem de 30 mil). “Nós não pretendemos criar alarmismos. O nosso objetivo é aperfeiçoar este tipo de instrumento, validar a sua utilização e aplicá-lo no futuro em outras situações. Havendo regiões do mundo com menos capacidade de teste laboratorial, mas onde os meios digitais já oferecem uma boa abrangência, este tipo de abordagem poderá revelar-se um complemento útil para o acompanhamento rápido da evolução de pandemias”, reforça Carlos Baquero.
A investigação começou em Espanha no início de março e foi sendo alargada progressivamente a outros países. O estudo está agora a ser feito em Portugal, Argentina, Chile, Chipre, França, Alemanha, Grécia, Itália, Japão, Reino Unido e Estados Unidos, estando em expansão a mais países. A equipa é liderada pelo investigador Antonio Fernandez Anta do IMDEA Networks,um instituto espanhol que faz investigação em redes de dados.