As PME portuguesas podem ainda não estar a usufruir do modelo de Big Data mas estão atentas. E pretendem, num futuro a curto/médio prazo, utilizar tecnologias para introduzirem valor nas suas empresas, garante Pedro Matos Sarmento, manager da Accenture Digital. O entrave na adoção do Big Data prende-se, basicamente, com as dificuldades de investir nas soluções desejadas dado que o investimento necessário quer em infraestrutura, quer em alterações aos processos de TI (por exemplo com a migração para a cloud), quer ainda em recursos humanos é substancial face ao orçamento disponível hoje em dias nas pequenas e médias empresas.
Que maturidade tem a adoção do Big Data no território nacional?
Neste momento a adoção do Big Data em Portugal ainda é embrionária. Existem algumas empresas de grande dimensão que já se encontram a construir as primeiras soluções embora de uma forma ainda exploratória e à procura de ultrapassar os primeiros desafios. Um dos maiores desafios que temos observado é como retirar valor desta tecnologia para o negócio da empresa. Neste momento, vemos a indústria do retalho e das telecomunicações a liderar os desenvolvimentos devido ao volume de dados, à necessidade de compreensão de padrões de consumo e identificação da jornada do cliente até à compra.
Identificamos que para a adoção do Big Data é necessário a redefinição da estrutura, dos processos e das mentalidades do TI e verificamos que nas empresas portuguesas estão a ser dados passos nesse sentido. Salientamos neste âmbito o estudo da alteração da infraestrutura de TI da empresa e da migração para a cloud de forma a reduzir os custos da infraestrutura necessária, a análise das alterações necessárias à organização e aos processos de TI, e ainda a identificação da necessidade de contratação de recursos com capacidades analíticas para integrarem as equipas de “cientistas” de dados.
Pela vossa experiência, estão as PME a usufruir de alguma forma deste modelo? Já investem em soluções?
Pela experiência que a Accenture detém, as PME portuguesas ainda não estão a usufruir deste modelo embora se encontrem atentas ao Big Data e pretendam, num futuro a curto/médio prazo, utilizar as tecnologias para introduzirem valor nas suas empresas. No entanto, reconhecem as dificuldades de investir nas soluções desejadas dado que o investimento necessário quer em infraestrutura, quer em alterações aos processos de TI (por exemplo com a migração para a cloud), quer ainda em recursos humanos é substancial face ao orçamento disponível.
Até que ponto o Big Data é capaz de acelerar a inovação e promover a tão almejada competitividade?
A proposta de valor é clara e muito oportuna. Nos últimos 20 anos, as tecnologias de informação modificaram radicalmente a forma como vivemos, nos relacionamos e fazemos negócios. Esta transformação conferiu ao consumidor um enorme poder. A internet, a mobilidade e a desmaterialização das transações fazem com que, hoje, o consumidor seja omnipresente em qualquer contexto. Esteja em permanente contacto com outros consumidores e disponha da informação certa para tomar e executar muito rapidamente as suas decisões de compra. Se, por um lado, este enquadramento configura um ambiente competitivo extraordinariamente difícil para as empresas operarem, por outro lado, esta gigantesca “pegada” digital (inimaginável há uns anos) abre um grandioso mar de oportunidades. Ao fundamentar quantitativamente as suas decisões, nomeadamente garantindo que os seus processos de inovação convergem com as preferências dos consumidores e antecipando-se à concorrência, as empresas tornam-se naturalmente mais competitivas. O Big Data é o paradigma que conjuga tecnologia e data science para, eficazmente, tornar tudo isto possível.
Hoje, quais são os principais desafios em termos de gestão de informação?
O volume de informação atualmente disponível é incomparavelmente superior ao que existia há apenas dois anos atrás. Isto revela não só que a quantidade de informação é enorme (e já agora muito variada), mas também que esta apresenta uma grande dinâmica. Os desafios tecnológicos que decorrem destas características estão, hoje em dia, a ser devidamente endereçadas e generalizados. Os principais desafios prendem-se pois com coordenação ativa da governação dos dados, o alinhamento dos dados com os objetivos de negócio, a consistência e a qualidade dos dados, a capacidade de gestão de grandes volumes de informação, a capacidade de integração de múltiplas e diferentes fontes de dados, a capacidade de aceder e potenciar dados não estruturados, o controlo dos acessos e da segurança e com a devida incorporação das competências certas dentro da organização (data scientists). Sem estes pilares assegurados, de nada valerá dispor de grandes volumes de informação heterogénea e de um stack tecnológico capaz de processar e de ajudar a interpretar os padrões e as tendências que esta poderá conter.
Desta forma, as organizações devem criar soluções internas para acelerar a governação dos dados e da informação, para gerir a arquitetura de informação, a gestão de dados mestre (masterdata) e meta dados (metadata), a gestão da qualidade dos dados, a gestão de serviços de Big Data, a gestão de conteúdos, de acessos e de segurança dos dados, a gestão do ciclo de vida dos dados e os recursos humanos com a qualificação necessária para a manipulação e análise dos mesmos.
E no que diz respeito à segurança e privacidade dos dados?
Reconhecemos como desafios os rápidos avanços tecnológicos, o aumento da pressão do mercado e ameaças crescentes. Identificamos que a função de segurança deve passar do controlo e da compliance para o apoio à monitorização contínua e ao crescimento do negócio da empresa. A segurança deve ser vista como uma parte crítica de tudo as e organizações fazem, e para as empresas continuarem a ser relevantes devem atingir um estágio de segurança que permita o crescimento, a inovação e a confiança, enquanto efetuam a gestão dos riscos.
Como resposta, acreditamos que as empresas devem pretender alcançar com a segurança os seguintes objetivos: maior valor para a empresa através da redução dos riscos, dos custos e da complexidade; maior posicionamento da marca e maior credibilidade através de cumprimento das normas e a capacidade de uma auditoria transparente; maior produtividade e crescimento do negócio, como resultado da implementação de serviços extensíveis, flexíveis e seguros; e aumento da confiança e fidelização dos clientes através da salvaguarda da informação do cliente contra ameaças e ataques.
Hoje o que presenta o Big Data em termos do vosso portfílio
Big Data é uma das ofertas do portfólio da Accenture, dentro do grupo de Digital, que inclui ainda ofertas de Digital Strategy & Business Design, Digital Customers, Channels & Markets, Digital Enterprise, Analytics, Big Data, Business Intelligence e Digital & Mobile Technologies.
Vemos no Big Data a tecnologia que permite extrair a informação de negócio, no menor intervalo de tempo, a partir de um conjunto de fontes de dados diversas e não estruturadas e que permite dotar o negócio da empresa de uma capaciddade de tomar a melhor decisão possível. Esta é a tecnologia que permite às empresas no mundo digital de hoje e amanhã extrair da pegada digital dos seus clientes a informação necessária para uma melhor tomada de decisões.
Relativamente ao Big Data, quais as grandes novidades que deverão existir durante 2014 e 2015?
Nos próximos anos, assistiremos à propagação do Big Data para fora do perímetro exclusivo dos “early adopters”. Em relação ao caminho já percorrido, prevê-se que os pilotos desenvolvidos inicialmente, de forma isolada, sejam revistos no sentido se alinharem transversalmente com as estratégias de negócio e assim proporcionem ganhos transformacionais às empresas. Estas soluções estratégicas irão manipular volumes de dados cada vez mais elevados, pelo que a sua exequibilidade irá implicar mudanças obrigatórias nas infraestruturas de rede, quer em soluções “on premises”, quer no acesso a soluções na cloud.
Outro aspeto a destacar prende-se com o estabelecimento progressivo de uma cultura Big Data dentro das organizações como elemento chave para assegurar vantagens competitivas. Esta evidência irá consolidar em definitivo a importância das capacidades de Data Science no mercado de trabalho.
Por fim, acreditamos que à medida que o Big Data se afirma, os consumidores vão tomando consciência do valor da informação que disponibilizam (data monetization). Neste enquadramento as empresas irão disputar o acesso aos dados dos consumidores, sendo que sairá vencedor quem oferecer as maiores recompensas. Com isto surgirão novos desafios, mas também interessantes oportunidades para todos.
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