Open source é o futuro do software

O futuro do desenvolvimento de software reside no open source, diz Álvaro Pinto, presidente da Esop – Associação das Empresas de Software Open Source Portuguesas. O responsável defende que só os programas de código aberto permitem às empresas tornar os seus negócios digitais mais eficientes, através da otimização da interoperabilidade dos vários sistemas e soluções e da mitigação de custos de aquisição e de licenciamento de tecnologia proprietária.

Para além de dizer que o desenvolvimento de software caminha, inevitavelmente, para o open source, Álvaro Pinto, em conversa com a BIT, durante a XII edição do Evento Linux 2015, explicou que muitos dos projetos que deram origem a alguns dos mais significantes progressos tecnológicos, como as redes sociais ou a própria Internet, foram resultado de investigação e de desenvolvimento operados sobre software de código aberto.

O responsável afirmou que os programas de código aberto “sempre fizeram parte da História da Informática e vão continuar a ser centrais no processo de desenvolvimento e na inovação tecnológica”.

Este formato de desenvolvimento de software, ao que poderia chamar-se de “o cúmulo da liberalização da criação de programas informáticos”, existe num contexto de partilha recíproca entre os diversos intervenientes que compõem a comunidade developer. Este intercâmbio de técnicas, de conhecimento, das melhores práticas e ferramentas de desenvolvimento é o que impulsiona a inovação do setor. “ A partilha permite desenvolver melhores produtos, produtos adaptados à necessidade de cada entidade”, sublinhou Álvaro Pinto, acrescentando que muitas tecnologias que hoje se considera como sendo commodity, podem ser as sementes que levarão uma pequena empresa, um startup a criar algo inovador.

A comunidade de empresas portuguesa que se dedicam à de software open source está ainda em fase de desenvolvimento. O presidente da Esop contou-nos que a associação conta com 26 empresas-membros, na sua maioria PMEs portuguesas que desenvolvem programas de código aberto. Algumas destas entidades contam já com projetos de referência. Álvaro Pinto deu o exemplo do portal FlyTAP, que recebeu hoje o Prémio Abertura, da Esop, durante o Evento Linux.

“Já há massa crítica, do lado das empresas, para que sejam desenvolvidos projetos de referência e que têm já um impacto significativo”, assegurou o responsável.

E o open source começa a ganhar terreno no ambiente corporativo. São cada vez mais as empresas que optam por soluções de código livre, em detrimento das proprietárias. A conjuntura económica austera vivida por Portugal foi, também ela, motor do crescimento desta adoção, visto que as soluções open source permitem reduzir as despesas de licenciamento e operação. Para além disso, o open source dá às organizações a capacidade de evitarem o chamado vendor lock-in (“dependência de vendedor”), devido à falta de operabilidade entre as soluções proprietárias de vários fabricantes, e de moldaram o software às suas necessidades particulares, podendo, elas mesmas, alterar o código do programa.

Muitas vezes o open source é associado a parâmetros de segurança mais laxos, pois estes programas podem ser “manipulados” por inúmeros developers, e isso pode deixar as empresas hesitantes na altura de escolher entre uma solução proprietária e fechada e uma solução de código aberto. Apesar de compreender este receio, o líder da Esop disse-nos que esta preocupação não podia ser mais injustificada. “Não há maiores vulnerabilidades nos sistemas abertos”, afiançou Álvaro Pinto. “Sendo um código aberto, há mais developers a olharem para ele, a identificar os seus problemas e a expô-los publicamente, e mais depressa se corrigem”. Desta forma, a realização de espionagem cibernética torna-se muito mais difícil de acontecer em ambiente open source, que está sob os olhos do mundo. Ainda de acordo com o responsável, os sistemas abertos conseguem ser mais robustos que os proprietários, em termos de segurança, fiabilidade e escalabilidade. “A maior transparência traduz-se na maior segurança para os utilizadores e para as organizações”, afirmou o executivo.

Para que a comunidade nacional de programadores open source possa crescer ainda mais e atingir um nível de maturidade ainda maior, Álvaro Pinto diz que é necessário que os programas curriculares do Ensino Superior apostem mais na formação na área do código aberto. Assim, os novos profissionais poderão dar resposta, de forma mais eficiente, às necessidades das organizações que procuram navegar a onda do open source, que, em linha com as considerações de Álvaro Pinto, são cada vez mais.