Visando promover o empreendedorismo e a inovação, em Portugal, a segunda edição do Novabase GameShifters resultou em três equipas vencedoras cujas ideias lhes valeram a distinção entre mais de 60 projetos. Em entrevista à B!T, os Ninjas Financeiros, equipa que alcançou o primeiro lugar e um prémio no valor de 15 mil euros, contam quais as dificuldades que encontraram ao longo de uma maratona de 24 horas e quais as bases em que se inspiraram para criar a aplicação vencedora.
Antes de mais, os Ninja Financeiros foram os vencedores da segunda edição da Novabase Gameshifters. Quem são, exatamente, os Ninjas Financeiros?
Gonçalo Neves: Os Ninjas Financeiros são estes dois personagens, que são amigos já há algum tempo, e decidiram entrar neste concurso de ideias que é o Gameshifters, e formar uma ideia, fosse ela qual fosse. Fomos ao Gameshifters e conseguimos desenvolver essa ideia. Foi bestial.
Em que consiste exatamente aquilo que vocês apresentaram? Ou seja, o conceito da app que foram apresentar.
Filipe Quendera: A nossa ideia passa por “todos nós utilizamos o telemóvel”. Faz parte. Já ninguém passa sem o telemóvel, e é-nos útil utilizá-lo em tudo, neste caso nos pagamentos e nos levantamentos. O que nós imaginámos foi: se nos esquecermos da carteira, ou se não a tivermos, por que não levantar dinheiro utilizando o telemóvel? Tendo em conta que existe um multibanco em todo o lado, a nossa ideia passou por juntar as duas coisas: telemóvel e multibanco. Através de um sistema de cruzamento de dados da rede nacional, imaginámos que seria possível levantar [dinheiro] através de uma aplicação. Fazemos o registo, fazemos o requisito do dinheiro, fazemos o levantamento no multibanco mais próximo.
Porquê criar uma aplicação para a área financeira? Achavam que havia alguma falha nas aplicações que já existem?
Filipe: Não uma falha, mas a possibilidade de explorar o que ainda não existe, ou seja, existem muitas informações nas aplicações dos bancos sobre os investimentos, sobre o saldo, sobre os movimentos, mas não existe nada que me permita mexer em dinheiro físico. E a nossa ideia passa por aí, por tornar física uma aplicação através dos contactos com os bancos.
Gonçalo: Parte também de uma questão muito simples. Ainda ontem estava a jantar com uns colegas, e estávamos a brincar por causa da aplicação e da ideia da aplicação, e fomos efetivamente jantar e um deles disse “Esqueci-me da carteira! Alguém me paga? Eu já pago”, e eu disse “Olha, vês? Se tivesses o NinjaMoney já não precisavas de passar por esse filme!”.
Falem-nos um pouco de como foi essa experiência das 24 horas. O que fizeram? Que contacto tiveram com as outras equipas?
Gonçalo: Se calhar o que consideramos mais importante… Já falámos depois disso, já tivemos tempo para descansar e depois para discutir o que foram exatamente estas 24 horas. E o mais importante para nós foi ter quase um mentor, que nos dissesse “Isto está péssimo”, “Isto está bom”, “Aqui poderiam explorar mais o assunto X”, e isso, só por si, já foi bom, independentemente de termos ganho. Há uma história caricata, porque o Filipe teve se ir embora dez minutos antes de entregarem o prémio final, e eu quando o fui levar ao carro disse “Foi uma experiência gira, tivemos aqui, conhecemos imensas pessoas, ainda ganhámos uma pen, uma t-shirt, comemos, jogámos FIFA, portanto foi uma experiência por si só bestial, criámos uma ideia. Depois quando ele se foi embora, eu voltei, ganhámos o primeiro prémio. Eu liguei-lhe e ele nem acreditou. A experiência por si só foi bastante enriquecedora. Mesmo para quem não ganha acho que pode ter oportunidade de melhorar a ideia com que já vinha.
O que é que vocês retiraram do contacto que tiveram com as outras equipas? Vocês viram o que os outros apresentaram. O que é que podem daí retirar que possa fazer crescer a NinjaMoney?
Filipe: Nota-se que existem muito boas ideias a aparecer em Portugal, e fazem falta estes eventos para vermos o que vai na mente dos mais jovens. Foi útil o contacto com as outras equipas, ajudou-nos. Tal como os mentores nos diziam “Façam isto, façam aquilo”, também membros de outras equipas diziam “Realmente eu utilizava [a app], porque faz falta”, “Por que é que ainda não existe?”. A ideia não é assim tão complicada. Por que não? Por isso, foi bastante agradável o contacto com todos.
Portanto, vocês acham que esta área do mobile payment – já não é tudo online, também já se faz através do telemóvel – tem potencial para crescer?
Filipe: Sim. Ainda existe aqui alguma margem. Não estamos a dizer que seja um negócio que vá revolucionar o mundo, mas é algo que certamente tem muito potencial e que tem muita área de negócio.
Então, e agora? O “depois? Vocês ganharam o prémio, tiveram o apoio da Novabase. O que é que se sucede?
Filipe: É uma boa pergunta. [Risos]. Ainda é muito recente.
Gonçalo: Ainda é um pouco recente para responder a isso. A nossa ideia passa um bocadinho por, em primeiro lugar, discutirmos melhor a ideia e como é que podemos implementar, entre nós, e depois procurar, junto da Novabase e de pessoas que já têm muito mais expertise na área da Banca e de redes de segurança, etc, etc, que nos podem ajudar imenso. O terceiro ponto passa também, se calhar, por procurar contactos junto dessas mesmas pessoas da Novabase que têm expertise, que nos podem ajudar de formas muito particulares, ajudar a crescer essa ideia.
Portanto, vocês agora vão beneficiar do portfólio de clientes que a Novabase, neste caso, tem.
Filipe: Precisamente.
Vocês agora vão ter acesso a um conjunto de parceiros da Novabase, que não teriam se não tivessem, efetivamente ganho o prémio.
Filipe: Exatamente.
Como foram aqueles sete minutos em que tiveram que apresentar o vosso pitch? Como é que se sentiram? Como encararam o júri? Era um painel intimidante.
Gonçalo: Nós tivemos dois pitches. O primeiro pitch foi de 3 minutos, mas nós percebemos rapidamente que tínhamos que ter uma apresentação muito diferente, e resolvemos criar um pequeno teatro, em que ele [apontando para o Filipe] era a pessoa que tinha a app e eu era a pessoa que me esquecia da carteira. E eu perguntava-lhe “Como é que eu levanto dinheiro?”, e o Filipe respondia “Então, usas a app!”. E daí explicava: ia ao multibanco – eu depois fazia de multibanco e entregava-lhe a nota. E isto foi o primeiro pitch. E quando passámos ao segundo pitch pensámos “OK! Agora temos que aprofundar a ideia”. Fizemos a mesma atuação, mas respondendo a mais necessidades. Explicámos onde é que a mesma ideia da aplicação podia ser usada em mais situações, como o exemplo de enviar dinheiro a um filho que está longe e não tem dinheiro.
Filipe: Porque é mais fácil perceber como as coisas funcionam quando elas acontecem à nossa frente, do que explicando apenas teoria. Mostrando a alguém que isto funciona assim, “porque você carrega, isto acontece, você faz esta ação e tem o resultado”, do que estar a dizer que “isto por detrás acontece desta maneira, desta forma e utiliza este algoritmo”. É mais fácil ver para crer, a verdade é essa.
Gonçalo: E daí os Ninjas Financeiros: aparecemos, resolvemos e desaparecemos. [Risos]. É isto!
Não falando agora especificamente do NinjaMoney, mas dos Ninjas Financeiros. Agora o que é que vocês vão fazer? Estão já com outra ideia em mente?
Filipe: Como o Gonçalo disse, passa por nos juntarmos agora, termos uma conversa um pouco mais séria e perceber o que vamos fazer. “Isto tem pernas para andar? Vamos apostar nisto!”, e se calhar vão surgir novas ideias, a verdade é essa.
Para já não há ainda nada de concreto?
Filipe: [Risos] Para já não.
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