MWC | GSMA identifica as barreiras à banda larga móvel na América Latina

De acordo com o relatório, existe um hiato considerável entre o número de consumidores que vivem em zonas cobertas por 3G e 4G e aqueles que realmente têm um serviço de acesso em banda larga. A região tem 634 milhões de habitantes, dos quais apenas 10% vivem fora da zona de cobertura; no entanto, 363 milhões de pessoas, ou 57% do total, não subscrevem serviços de banda larga móvel. Destes, 100 milhões vivem no Brasil, que é o maior mercado da região.

“A banda larga móvel é o método primário de oferta de acesso à internet com custos razoáveis na América Latina e Caribe, disponibilizando uma série de benefícios económicos e sociais e apoiando os Objetivos de Desenvolvimento Social das Nações Unidas”, disse o líder da GSMA para a América Latina, Sebastian Cabello. “Mas também há aqui o perigo de alargar o fosso digital na região, porque há milhões que ou não podem ou não querem usar serviços de banda larga móvel”, sublinhou o responsável. Cabello pediu aos governos que trabalhem com a indústria móvel para “endereçarem as barreiras à adesão e assegurarem que a internet móvel é mais acessível, útil e compreensível para todos.”

Eis as barreiras identificadas no relatório:

  • Ausência de conteúdos locais relevantes: a pesquisa aponta para uma oferta limitada de conteúdos atrativos. Dado relevante: a análise do tráfego web na região mostra que menos de 30% dos conteúdos são consultados em português ou espanhol, apesar de estas serem as línguas dominates. Mais, o que há nas lojas de aplicações ou sites de operadoras é sobretudo entretenimento, o que cria a ideia entre os não utilizadores de que a internet é mais um canal de lazer.
  • Falta de competências digitais: a taxa de literacia digital até é superior na região que a média global, mas a lacuna mantém-se nas competências. A pesquisa mostra que a infraestrutura de TI e o apoio à educação digital são insuficientes, o que impede a exploração dos benefícios da internet no móvel.
  • Custo: Aqui encontra-se o nível regional de desigualdade mais elevado do mundo, pelo que os custos são uma barreira significativa à adesão para as pessoas com menos recursos. Para 40% dos consumidores que estão no estrato mais baixo, o custo de banda larga móvel representa 17% do salário, em comparação com o peso de 2% para os 20% da população no topo do estrato. “Uma das maiores barreiras é a taxa de impostos sobre os serviços móveis, particularmente no Brasil e Argentina, onde os impostos sobre o consumo são mais de 30% dos custos”, sublinha a GSMA. “Uma redução em impostos e taxas específicos aplicados aos consumidores e operadores poderia ajudar a melhorar a acessibilidade do preço.”
  • Cobertura de rede: 90% da região já está coberta, mas as restantes partes que se mantêm sem ligação (em zonas de montanha, floresta ou ilhas) “poderá não ser viável sem colaboração e algum tipo de parceria pública.”

Matthew Bloxham, diretor do programa Connected Society da GSMA, afirma que a entidade está empenhada em ajudar a diminuir o fosso. “A GSMA está a trabalhar com operadores móveis, governos e a comunidade de desenvolvimento internacional para desenhar e implementar iniciativas comercialmente sustentáveis e escaláveis que possam desbloquear as barreiras do lado da oferta e da procura à adesão a serviços de internet móvel.”

Ana Rita Guerra

Jornalista de economia e tecnologia há mais de dez anos, interessa-se pelas ideias disruptivas que estão a mudar a forma como se consome e se trabalha. Vive em Los Angeles e tem um gosto especial por startups, música, papas de aveia e kickboxing.

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