O poder das aplicações de “messaging”
A internet uniu-nos. A todos. E, hoje, conversamos com pessoas do outro lado do planeta sem qualquer problema. Sem qualquer entrave. Esta, digamos, facilidade fazia prever que talvez a cultura do “on-line” poderia eventualmente tornar-se em uma nova cultura mundial homogénea. Mas não.
A plataforma de comunicação Medium publicou um curioso trabalho onde explana que, em vez disso, e sobretudo derivado ao fenómeno das aplicações, acabou por acontecer precisamente o contrário. E o mercado das aplicações é mais diversificado do que nunca – com diferentes regiões do mundo a florescerem dentro dos seus próprios ecossistemas.
A efetiva adoção do smartphone conseguiu surpreender tudo e todos. Porque por muito que pensassem que ia acontecer, a verdade é que os analistas nunca admitiram que ia ser tanto e tão rápido. O que acabou por moldar o mundo de muitas formas. E, curiosamente, mudou também a forma como conversamos.
Benedict Evans, sócio da empresa de capital de risco Andreessen Horowitz, citado na Medium, publicou um slideshow chamado “Mobile is eating the world”, repleto de estatísticas que mostram o quão impressionante é o impacto de tudo isto no mundo.
Já sabemos que o smartphone é agora o equipamento mais popular que qualquer ser humano detém. E mais popular ainda se falarmos em interagir com a internet, assim como com outras pessoas.
Olhando para as estatísticas de uso do Facebook, quase que podíamos assumir que o mundo rapidamente pode adotar uma dieta “mobile-only”. A rede social de Zuckerberg anunciou no início de novembro que mais de mil milhões dos seus clientes interagem com o serviço apenas através de seus telefones. E simplesmente deixaram de fazer login nos desktop.
Diz Owen Williams, que assina o trabalho na Medium, que como o Facebook se tornou um gigante global, com mais de mil milhões de clientes móveis ativos, é fácil esquecer que não é a plataforma de acesso para cada pessoa, em cada país. Ok, quase toda a gente que conhecemos tem um perfil no Facebook, mas onde essas pessoas realmente passam o tempo é algo completamente diferente.
Cada mercado tende a usar seu próprio serviço de mensagens e a preferir algumas formas únicas de comunicação. Na Ásia, por exemplo, o uso de “stickers” pagos é extremamente comum, gerando milhões de dólares para os fabricantes de aplicações a cada ano.
Ásia
Este é provavelmente o mercado mais diferente do mundo. É que ao contrário dos EUA e da Europa, a Ásia tende a preferir aplicações de mensagens que podem, literalmente, ajudá-lo a fazer qualquer coisa no seu dia.
LINE, a aplicação móvel mais popular do Japão, permite que os clientes enviem mensagens uns para os outros, mas dentro da mesma aplicação o utilizador pode jogar, fazer compras e até mesmo chamar um táxi.
Ainda mais incrível é que a LINE faz mais de 270 milhões de dólares por ano a vender “stickers” aos clientes. Um feito que nenhuma empresa de aplicações ocidental conseguiu fazer.
O WeChat, na China, é algo semelhante. Basicamente, é considerada a porta de entrada para todos os serviços no país e, eventualmente, cresceu para abranger tudo, desde bilhetes de cinema, transporte (aéreo, ferroviário, táxi), transferência de dinheiro e muito mais.
Usa o modelo de “aplicação dentro de aplicação“, o que significa que milhares de pequenas e leves aplicações podem perfeitamente (con)viver dentro do serviço principal, tornando-o mais como um navegador que permite o acesso a aplicações “certificadas” do que qualquer outra coisa.
A China foi um dos primeiros mercados a usar o que hoje conhecemos como “chatbots”, com quase todas as marcas do país exibindo “contas oficiais” nos serviços para interagir com clientes.
Mas a verdadeira chave para todo este sucesso, diz a Medium, é que o WeChat e a LINE estão profundamente inseridos nos sistemas de pagamento dos países e todos os que usam esses serviços têm um método de pagamento vinculado à conta para comprar stickers ou interagir com uma aplicação embutida no serviço, abrindo a plataforma para quase todas as atividades de comércio eletrónico.
No entanto, estes dois serviços tiveram um sucesso limitado fora da Ásia, e até mesmo fora dos seus respectivos países, devido à barreira da língua e à dificuldade de oferecer a amplitude de serviços no exterior.
Estados Unidos e Europa
Os Estados Unidos são um mundo totalmente diferente quando falamos de aplicações, sobretudo face às diferenças culturais e à propriedade sobre os ecossistemas que impediram qualquer claro monopólio.
Por exemplo, o Facebook Messenger é o serviço de mensagens mais popular dos EUA, mas a empresa tem lutado para abrir o seu ecossistema.
Na Ásia, quase todos os utilizadores têm empresas na sua lista de contactos e enviam mensagens, não sendo considerado qualquer tipo de “intromissão”. Basicamente, explana o Medium, é um facto da vida. Nos EUA, no entanto, isso é considerado insistente e absolutamente irritante.
Neste aspeto, o Facebook quer tentar aproximar-se das práticas do WeChat: a empresa de Zuckerberg quer tornar-se numa potência do comércio eletrónico, tal como os seus comparsas asiáticos, mas tropeçou em tornar a aplicação popular.
No ano passado, a empresa lançou o Messenger for Business, de alguma forma muito semelhante ao funcionamento do ecossistema do WeChat. As empresas agora podem fazer contas de chat através das quais podem conversar diretamente com os clientes, com a opção adicional de botões personalizados para ações dentro da conversa.
O Snapchat, entretanto, tem permanecido como uma única aplicação monolítica, à qual vão sendo adicionadas funcionalidades ao seu serviço principal, em vez de o desmembrar em pequenas aplicações como faz o WeChat, LINE e até mesmo Facebook.
Uma coisa é certa: a conversação é a chave para alcançar as pessoas. Fornecer a opção de expressar um pedido nas próprias palavras de um visitante, em vez de apenas através de uma interface é mais poderoso do que qualquer pessoa esperava.
Mas a verdade é que todos, desde o Facebook ao WeChat, estão ainda em fase de aprendizagem, especialmente quando se trata de comércio eletrónico. Mas a oportunidade é imensa. Dada a escolha entre baixar uma aplicação para fazer uma tarefa simples, ou apenas perguntar em uma conversa, as pessoas vão sempre escolher a última opção.