O Conselho Administrativo da Portugal Telecom já contava que a Rioforte, uma unidade do Grupo Espírito Santo, não cumprisse com o prazo para o pagamento de 847 milhões de euros, uma parcela dos 897 milhões de euros emprestados pela operadora portuguesa à sociedade de investimentos do GES. Contudo, a fusão da PT com a operadora brasileira Oi manter-se-á firme, visto que este incumprimento era já algo tido como mais do que certo.
Ontem foi o último dia que a Rioforte tinha para pagar uma parcela do empréstimo que a PT fizera ao segmento do GES em abril. Contudo, a empresa de telecomunicações estava já mais do que certa de que tal não aconteceria.
Assim, sendo o incumprimento do pagamento um dado mais do que adquirido, a PT tem, desde a passada quinta-feira, estado a negociar com a Oi e com os seus respetivos acionistas para ser delineada uma estratégia de partilha de prejuízos entre ambas as empresas. No entanto, os shareholders da operadora brasileira, desagradados com o que lhes era proposto, franziram o sobrolho, tendo mesmo dito que a PT deveria acarretar esta dívida sozinha e criticando severamente a portuguesa por ter efetuado o dito empréstimo à revelia dos seus sócios. A falha do reembolso do capital emprestado poderá agora ser causa do atraso da concretização da fusão da PT com a Oi, podendo o negócio só vir a ser concluído no próximo ano, ao invés de no próximo mês de outubro, como estava planeado.
A imprensa brasileira revelou que é tido como certo um corte na participação da PT na CorpCo, a empresa que germinará da fusão da operadora do Brasil com a empresa de telecoms lusitana, reduzindo-a dos atuais 37 por cento para 20 por cento. Naturalmente, esta é uma situação que a PT quer evitar a todo o custo, mas é um resultado face ao qual terá agora de precaver-se, tendo em conta que a Rioforte não avançou com o pagamento da dívida.
Não querendo ser vitimados no fogo-cruzado, os acionistas brasileiros da Oi mostraram já o seu interesse em alterar os termos da negociação com a Portugal Telecom, que está a procurar estender o prazo do pagamento para 2015, dando assim hipótese para que o GES emerja das dificuldades em que se afoga e reúna os recursos necessários para colmatar a dívida.
Apesar dos acionistas brasileiros, querendo apagar o maior número de fogos possível, estarem determinados em modificar as condições sobre as quais assenta a fusão, Luciano Coutinho, presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Económico e Social (BNDES), um dos maiores acionistas da Oi, salvaguardou, no fim da semana passada, que o progresso e finalização do negócio entre a PT e a operadora brasileira não deverão ser postos em causa devido ao empréstimo da portuguesa à Rioforte. Não obstante, Coutinho afirma que o acordo poderá ser alvo de alterações.
Segundo consta, a PT estaria ciente das dificuldades económicas que assolavam a Rioforte aquando do empréstimo dos 897 milhões de euros. Contudo, parece que a quase certeza de que a unidade do GES não poderia pagá-lo não demoveu a Portugal Telecom.
De momento, tanto a PT como a Oi estão embrenhadas em negociações para tentar conceber uma solução que viabilize a concretização da fusão sem que os termos do negócio sejam radicalmente reformulados.
Os restantes 50 milhões de euros deverão ser pagos pela Rioforte à Portugal Telecom até esta quinta-feira.
A Anatel, autoridade portuguesa reguladora das telecomunicações, está a acompanhar pari passu o desenrolar dos acontecimentos que envolvem o trio PT-Oi-GES. Contudo, o presidente da Agência Nacional de Telecomunicações, João Rezende, afirmou que a entidade intervirá na situação unica e exclusivamente se as negociações entre as empresas em questão foram causa de alterações societárias na CorpCo. Mesmo que isso aconteça, Rezende afirmou que a Anatel não se oporá à fusão.
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