Num movimento inesperado, o Facebook anunciou a aquisição da empresa responsável pelo aplicação de mensagens instantâneas WhatsApp.
Caso a transação não seja aprovada pelos órgãos reguladores, existe uma cláusula condicional que obriga o Facebook a pagar multa de mil milhões de dólares em dinheiro e a mesma quantia em ações. É uma multa bem alta, que mostra o quanto a empresa de Mark Zuckerberg quer tomar o controle da aplicação.
Startup com apenas 55 funcionários, o WhatsApp foi lançado em 2009 e tem como fonte de receita a cobrança de um dólar por uso anual do serviço. A taxa é cobrada após o primeiro ano de uso. Os seus fundadores, Brian Acton e Jan Koum, foram funcionários da Yahoo antes de lançar a sua própria empresa.
Com o seu público encolhendo, em especial os jovens, a compra do WhatsApp faz sentido para a manutenção da influência do Facebook. A rede social tem perdido progressivamente audiência jovem, que passou a utilizar o WhatsApp e outras aplicações análogas, como Line e WeChat.
Denominados como “Facebook Nevers”, os mais jovens adotaram o WhatsApp por causa da disseminação dos smartphones e preços convidativos dos planos de dados, que são muito mais atraentes que as mensagens via texto. Com a possibilidade de falar simultaneamente com os seus amigos de verdade e partilhar fotos e vídeos de maneira privada, sem que mães, pais e professores possam ver.
O crescimento vertiginoso do WhatsApp, que graças à massa crítica alcançada tem o número de utilizadores aumentado em um milhão de pessoas ao dia, poderia torná-lo um rival potencial ao Facebook. Aniquilando a possível concorrência, o Facebook conseguiu ainda aumentar a sua abrangência, de olho no futuro.
O blog oficial do WhatsApp rapidamente comunicou aos mais de 450 milhões de utilizadores mensais ativos que “Vocês podem continuar a confiar que nenhuma publicidade irá interromper a sua comunicação. Nenhuma parceria entre as empresas seria firmada se tivéssemos que comprometer os princípios que definem a nossa empresa, a nossa visão e o nosso produto”.
Essa declaração mostra a preocupação que muitos têm com a postura intrusiva do Facebook, que constantemente força publicidade não desejada nas timelines dos utilizadores. É justamente essa evasão de privacidade e abuso que fez, em primeiro lugar, muita gente abandonar a rede social.
Mark Zuckerberg, em comunicado oficial, afirmou que a companhia comprada seguirá com independência, sem mudança na forma como opera. Jan Koum continuará no seu cargo de CEO do WhatsApp e fará parte do conselho diretor do Facebook.
Mas vale lembrar que o Facebook já tem um serviço de mensagens instantâneas, com aplicação própria e funcionamento em computadores, que também faz ligações de voz e vídeo, como o Skype. O problema é a inconsistência da aplicação para iOS e Android: algumas mensagens podem demorar vários minutos para chegar aos utilizadores, o que prejudica a utilidade do serviço.
Com o WhatsApp isso não acontece. As mensagens chegam de forma instantânea, em qualquer sistema. Se o Facebook usar essa expertise para retrabalhar a seu app ou até mesmo substituí-lo (como fez a Microsoft, que extinguiu o seu programa de mensagens instantâneas após comprar o Skype), dará um passo para manter sua relevância mesmo fora do ambiente de sua rede social. Hoje, o Facebook se apoia na geração de conteúdo pelos utilizadores, mas não na comunicação direta.
A busca por diferentes públicos por meio de aquisições é uma estratégia corrente para o Facebook. Em 2012, o Instagram, rede social de partilha de fotos, foi comprada de forma preventiva, antes que se tornasse um rival substancial ou caísse nas mãos da rival Google.
A inteligência adquirida com diferentes públicos será crucial para o Facebook explorar melhores formas de publicidade, e dará a Zuckerberg ainda mais poder em Silicon Valley. Agora resta aguardar como a Google retaliará.
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