Facebook compra WhatsApp por 19 mil milhões

Num movimento inesperado, o Facebook anunciou a aquisição da empresa responsável pelo aplicação de mensagens instantâneas WhatsApp.

O negócio foi fechado por 12 mil milhões de dólares em ações da rede social, quatro mil milhões em dinheiro e o pagamento de três mil milhões adicionais, no período de quatro anos, para sócios e colaboradores como prémio.

Caso a transação não seja aprovada pelos órgãos reguladores, existe uma cláusula condicional que obriga o Facebook a pagar multa de mil milhões de dólares em dinheiro e a mesma quantia em ações. É uma multa bem alta, que mostra o quanto a empresa de Mark Zuckerberg quer tomar o controle da aplicação.

Startup com apenas 55 funcionários, o WhatsApp foi lançado em 2009 e tem como fonte de receita a cobrança de um dólar por uso anual do serviço. A taxa é cobrada após o primeiro ano de uso. Os seus fundadores, Brian Acton e Jan Koum, foram funcionários da Yahoo antes de lançar a sua própria empresa.

Com o seu público encolhendo, em especial os jovens, a compra do WhatsApp faz sentido para a manutenção da influência do Facebook. A rede social tem perdido progressivamente audiência jovem, que passou a utilizar o WhatsApp e outras aplicações análogas, como Line e WeChat.

Denominados como “Facebook Nevers”, os mais jovens adotaram o WhatsApp por causa da disseminação dos smartphones e preços convidativos dos planos de dados, que são muito mais atraentes que as mensagens via texto. Com a possibilidade de falar simultaneamente com os seus amigos de verdade e partilhar fotos e vídeos de maneira privada, sem que mães, pais e professores possam ver.

O crescimento vertiginoso do WhatsApp, que graças à massa crítica alcançada tem o número de utilizadores aumentado em um milhão de pessoas ao dia, poderia torná-lo um rival potencial ao Facebook. Aniquilando a possível concorrência, o Facebook conseguiu ainda aumentar a sua abrangência, de olho no futuro.

blog oficial do WhatsApp rapidamente comunicou aos mais de 450 milhões de utilizadores mensais ativos que “Vocês podem continuar a confiar que nenhuma publicidade irá interromper a sua comunicação. Nenhuma parceria entre as empresas seria firmada se tivéssemos que comprometer os princípios que definem a nossa empresa, a nossa visão e o nosso produto”.

Essa declaração mostra a preocupação que muitos têm com a postura intrusiva do Facebook, que constantemente força publicidade não desejada nas timelines dos utilizadores. É justamente essa evasão de privacidade e abuso que fez, em primeiro lugar, muita gente abandonar a rede social.

Mark Zuckerberg, em comunicado oficial, afirmou que a companhia comprada seguirá com independência, sem mudança na forma como opera. Jan Koum continuará no seu cargo de CEO do WhatsApp e fará parte do conselho diretor do Facebook.

Mas vale lembrar que o Facebook já tem um serviço de mensagens instantâneas, com aplicação própria e funcionamento em computadores, que também faz ligações de voz e vídeo, como o Skype. O problema é a inconsistência da aplicação para iOS e Android: algumas mensagens podem demorar vários minutos para chegar aos utilizadores, o que prejudica a utilidade do serviço.

Com o WhatsApp isso não acontece. As mensagens chegam de forma instantânea, em qualquer sistema. Se o Facebook usar essa expertise para retrabalhar a seu app ou até mesmo substituí-lo (como fez a Microsoft, que extinguiu o seu programa de mensagens instantâneas após comprar o Skype), dará um passo para manter sua relevância mesmo fora do ambiente de sua rede social. Hoje, o Facebook se apoia na geração de conteúdo pelos utilizadores, mas não na comunicação direta.

A busca por diferentes públicos por meio de aquisições é uma estratégia corrente para o Facebook. Em 2012, o Instagram, rede social de partilha de fotos, foi comprada de forma preventiva, antes que se tornasse um rival substancial ou caísse nas mãos da rival Google.

A inteligência adquirida com diferentes públicos será crucial para o Facebook explorar melhores formas de publicidade, e dará a Zuckerberg ainda mais poder em Silicon Valley. Agora resta aguardar como a Google retaliará.

Jocelyn Auricchio

Atua como jornalista especializado em tecnologia há mais de 20 anos, escrevendo para as maiores empresas de mídia do Brasil, como Editora Abril e Jornal O Estado de São Paulo. Além de foco em cobertura B2B e B2C, tem especial interesse nos bits e bytes do mundo hacker. Entusiasta por tecnologia desde que conseguiu formular as primeiras frases, está em busca de um mítico notebook para jogos com grande autonomia de bateria. Acredita em café bom, chocolate amargo e comida decente.

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