B!T : O tema governança é, hoje, a principal dúvida das empresas quando pensam a sua abordagem ao cloud computing? Que outras dúvidas assolam os vossos clientes?
Paulo Ferreira (PF): A agilidade, a potencial redução dos custos, a confiabilidade e uma elevada escalabilidade são vantagens que, numa primeira fase, são associadas à abordagem de cloud. Rapidamente, e logo que os clientes ganham maturidade no tema, percebem que o mundo da cloud é uma alavanca fundamental para a inovação, diferenciação ou até mesmo disrupção do seu negócio. Este é o ponto-chave onde a cloud é vista como o veículo mais rápido para desenvolver negócio e enveredar no caminho da transformação digital.
Para a gestão de topo poder avaliar a cloud como alavanca que facilita o cumprimento dos objetivos estratégicos e operacionais do negócio, é necessário primeiro saber se essas expectativas estão plenamente alinhadas e servem a estratégia global de negócio da organização. Quando o cliente percebe isto e ganha maturidade no tema, todas as dúvidas se esbatem rapidamente.
Neste sentido, o primeiro passo para uma abordagem de cloud é o top management garantir o estabelecimento de um entendimento comum dos benefícios esperados, bem como dos desafios e dos mecanismos de acompanhamento e medição.
A experiência associada a um parceiro do mundo dos serviços híbridos com o domínio do IT tradicional ON Prem e Cloud ajuda e acelera o top management a dissipar rapidamente as tradicionais questões de quem começa a olhar para estes temas: Como poderão ser garantidos os níveis de segurança necessários ao negócio? Qual o grau de confiança na disponibilidade e integridade dos dados? Como gerir a informação que existirá num ambiente híbrido, distribuído por soluções on premises e on cloud? Os requisitos legais e regulamentares estarão a ser plenamente cumpridos? Como os custos serão controlados, dado a enorme flexibilidade e o rápido time to market que o ambiente on Cloud permite? Como será gerida a mudança e o novo modelo de governance necessário? Como tratar aplicações legacy, críticas para o negócio, que não poderão fazer este movimento?
A cloud deve ser de consumo simples, com impacto direto e rápido nas diferentes linhas de negócio e a gestão da complexidade da infraestrutura híbrida deverá ficar do lado do provider de serviços do cliente.
B!T: Por exemplo, existem normas suficientes para suportar o movimento de dados de uma plataforma de Cloud computing para outra?
PF: A cloud não é uma moda passageira. É uma forma concreta de resolver alguns problemas que se colocam aos gestores e às operações das empresas.
Existem vários exemplos de normalização que também se aplicam num contexto de ambiente de cloud, que não são específicos apenas do IT “tradicional”.
Para citar alguns exemplos: para a definição e implementação de processos eficientes, existe o Lean IT onde, de facto, eliminamos o que não interessa para as funções a implementar no desenvolvimento de produtos e serviços.
Para transformar o IT num efetivo prestador de serviços que acresce valor ao negócio, existe a boa prática ITIL e a Norma Internacional ISO 20000, esta última certificável pelas entidades credenciadas para o efeito.
Mais alinhado com as dinâmicas de cloud utilizam-se também cada vez mais metodologia orientadas a ambientes aplicacionais que necessitam implementação continua e entrega continua que são muitas vezes característicos da necessidade de inovação, diferenciação e flexibilidade que a cloud disponibiliza. Neste caso, as metodologias de Lean Startup e DevOps são muito adotadas.
Com maior foco na componente do governo e da gestão do risco, provavelmente as maiores preocupações da gestão quando se avalia a abordagem estratégica da cloud, temos a framework CobiT5, que contribui para uma efetiva gestão do risco operacional e alinhamento estratégico entre o IT e o negócio.
De um ponto de vista tecnológico, e para facilitar a movimento de dados entre clouds, começam também a surgir plataformas tecnológicas de movimentação de workloads e orquestração de processos que tornam a prestação dos serviços de cloud agnósticos da sua origem. Caminha-se, cada vez mais, para o mundo híbrido das múltiplas clouds que, combinadas, garantem a agilidade e a flexibilidade mais adequada para a prestação do serviço necessário ao cliente.
B!T: A IDC (International Data Corporation) divulgou uma pesquisa na qual expressa que no primeiro trimestre do ano passado os investimentos globais em cloud eram cerca de 26%, enquanto que o mesmo número, quando se trata de investimentos na infraestrutura física, aumentaram 6,1%. Confirmam esta tendência?
PF: Sentimos hoje os nossos clientes pelo mundo fora em estágios de maturidade diferente. Alguns já têm as suas plataformas híbridas, outros ainda não iniciaram estas implementações. Mas é claro que é hoje uma opção de gestão, uma alternativa válida, e os níveis de confiança do mercado subiram vertiginosamente nos últimos dois anos. Talvez porque há mais referências de sucesso, ou talvez porque a nossa empresa oferece essa confiança aos clientes há muitos anos. Sentimos também o nosso negócio a crescer nessa vertente, acima do negócio tradicional.
B!T: As consultoras advogam ainda que a adoção da nuvem em larga escala e a concorrência entre os fornecedores das tecnologias tem diminuído o custo da nuvem privada. Corroboram esta opinião?
PF: Mais que uma opinião é um facto. Quando aumentamos a escala de um produto, de uma oferta, de um serviço, e quando aparecem várias empresas no mercado com o mesmo tipo de oferta, verifica-se que os custos diminuem. A diferenciação em preço sente-se mais nas soluções de IaaS. Quando subimos na cadeia de valor em serviços de PaaS e SaaS a diferenciação das ofertas aumenta e isso também se reflete no preço e no valor que aportam ao cliente.
B!T: O que tem vindo a mudar, em Portugal, na adoção do cloud computing por parte das empresas?
PF: As empresas têm procurado repostas aos desafios de negócio que se têm colocado. A migração dos negócios para a economia digital e a proximidade do IT ao negócio, têm levado que o IT seja discutido ao mais alto nível numa organização. Não é mais apenas um tema da Direção de Sistemas de Informação. É um tema no negócio. Há hoje também uma literacia de Sistemas e Tecnologias de Informação muito mais abrangente nas organizações: desde os profissionais das áreas de Marketing, Comercial, passando pelas Operações ou Desenvolvimento, até à própria administração. Passou a ser um tema da empresa. A cloud vem resolver alguns desafios que se colocam às empresas. Uns mais operacionais, como disponibilidade, custo, eficiência, adaptabilidade, e outros mais de negócio, como inovação, diferenciação e Transformação Digital. É este último ponto, e a capacidade de antecipar os negócios concorrentes que podem transformar por completo as regras do jogo e a cadeia de valor numa indústria, que tem levado muitas empresas a querem entender e a adotar as tecnologias da 3ª plataforma tecnológica – Cloud, Mobility, Data Analytics e Social Buiness. A adoção de cloud tem sido muito favorecida neste movimento.
B!T: 2016 vai ditar a “morte” das nuvens públicas empresariais?
PF: Sabemos, de transformações anteriores, que um paradigma não mata o outro num instante. O que acontece é que se vai construindo o novo paradigma à medida que o outro ainda subsiste… O melhor exemplo que temos disso é o mainframe, que algumas empresas (nomeadamente os bancos) ainda utilizam.
B!T: Mais do que uma guerra pelas infraestruturas, agora vamos ter uma verdadeira luta pelas aplicações?
PF: Gostamos de olhar para o IT de forma integrada. A cloud é apenas outra forma de entregar o IT, e que resolve alguns problemas às empresas. É natural que algumas empresas estejam mais preparadas para responder a este desafio pela via das infraestruturas e outras pela via das aplicações. Acreditamos muito que o mercado vá necessitar cada vez mais de parceiros que dominem as alavancas (Cloud, Mobility, Data Analytics e Social Buiness) da 3ª plataforma e que a Cloud não vai acabar com as infraestruturas e datacenters ou clouds privadas dos clientes. Os nossos clientes solicitam e valorizam cada vez mais as valências e experiência no suporte ao IT Hibrido com serviços adequados de cloud e Managed Services. É uma zona onde estamos a investir cada vez mais. Há um espaço natural para o desenvolvimento de serviços em cima da cloud em ambas as vertentes, diferenciadas por experiência e capacidade de execução de serviços híbridos. Esta nova transição tecnológica e adoção de plataforma, obriga a uma transformação completa na indústria das TIC, desde fabricantes, integradores, consultores e clientes, e é tão profunda que acreditamos mais na construção de ecossistemas e parcerias de valor do que nas guerras entre infraestruturas e aplicações. É a nossa convicção.
B!T: O que distingue a vossa abordagem à cloud dos restantes players?
PF: A Novabase distingue-se de outros players pela sua capacidade de Infraestruturas e Aplicações. Como Cloud Service Provider privilegiamos uma abordagem híbrida baseada em soluções e serviços orientados para ajudar o IT a alavancar o negócio dos nossos clientes. Como player destacado no mercado nacional, temos usado essa posição para desenvolvermos no mercado internacional. Isso explica que metade do negócio em 2015 tenha sido executado fora de Portugal. Essa experiência de empresa multinacional portuguesa tem-nos ajudado a encontrar espaço com massa critica que tem como principal vantagem o treino continuado dos melhores profissionais do mercado.
Temos sido consistentes na abordagem ao modelo híbrido, e os clientes têm reconhecido essas valências, a avaliar por vários sucessos recentes. Estamos muito gratos pelas oportunidades que os nossos clientes nos têm dado.
B!T: Que percentagem do vosso negócio é já conquistado através deste modelo?
PF: Somos uma empresa cotada, não divulgamos esse número. Mas posso dizer-lhe que começámos o nosso caminho há alguns anos, e estamos muito alinhados com o mercado.
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