É importante garantir que não “se perde comboio da inovação”

Em entrevista à B!t, João Paulo Fernandes, Diretor de Vendas e Marketing da NEC Portugal, falou sobre as perspetivas da NEC em relação ao futuro, nomeadamente as que estão relacionadas com Big Data. 

O ensaio feito na Roménia é um dos exemplos de aplicações não tão óbvias das potencialidades do Big Data. Em que outros projetos do género está a NEC envolvida?

O desenvolvimento e utilização de técnicas analíticas que permitam a deteção e tratamento de correlações em grandes volumes de dados, tem sido efetuado pela NEC numa variedade de cenários onde a geração de grandes quantidades de dados é comum e a sua correta interpretação é crítica para a otimização dos processos de negócio. Entre estes cenários, contam-se todos aqueles que tiram partido do novo paradigma da Internet of Things, em que a informação recolhida em tempo real por múltiplos sensores é utilizada para otimizar o processo de negócio. Estes sensores poderão ser aplicados em áreas de exploração agrícola, dado origem a soluções de “agricultura de precisão” como a que foi implementada pela NEC na Roménia, ou poderão estar espalhados pelos mais diferentes tipos de equipamento urbano, dando origem a soluções de “cidades inteligentes”, como a gestão inteligente de resíduos que a NEC anunciou recentemente estar a implementar na cidade de Santander, Espanha. O grande desafio, nestas novas soluções que tiram partido da informação recolhida por uma grande quantidade de sensores espalhados em ambiente rural ou urbano, consiste em conseguir efetuar de forma rápida e eficiente o tratamento em tempo real de todos os dados por eles recolhidos, processando-os de forma a extrair informação útil para o negócio e apresentando-a aos decisores de uma forma suficientemente simples e intuitiva, para que a possam utilizar nos seus processos de decisão. É aqui que o Big Data desempenha um papel fundamental, ao permitir responder a esse desafio. A este nível, para além das soluções de agricultura de precisão e de gestão inteligente de resíduos já mencionadas, no âmbito das novas soluções para cidades inteligentes a NEC disponibiliza, ainda, um conjunto de outras soluções que procuram aumentar os níveis de segurança, eficiência e sustentabilidade na gestão dos recursos e serviços de uma cidade. Dentre estas soluções destacam-se, entre outras, a deteção inteligente de fugas em redes de distribuição de água, o reconhecimento automático de comportamentos suspeitos em zonas com videovigilância e a gestão inteligente dos sistemas de iluminação pública.

Existe alguma possibilidade de o mesmo tipo de ensaio ou estudo ser posto em prática em Portugal? Terá o país as condições adequadas?

Sim. Os problemas que soluções como a de agricultura de precisão ou as cidades inteligentes ajudam a resolver, ocorrem em todos os países e todas as cidades do mundo. Portugal não é exceção. No que diz respeito à agricultura de precisão, Portugal tem, como sabemos, uma grande notoriedade internacional em termos de alguns produtos agrícolas de reconhecida qualidade, como por exemplo o vinho e alguns hortofrutícolas, cujas produções só poderiam beneficiar da implementação de soluções similares à que a NEC instalou na Roménia. E nas nossas cidades, existem ganhos em termos económicos, por via de aumentos de eficiência e sustentabilidade, que poderiam ser rapidamente obtidos em vários serviços como, por exemplo, a distribuição de água, com a redução de perdas na rede de distribuição, ou a recolha de resíduos urbanos, com a otimização dos percursos das equipas que dela se encarregam. E sendo o financiamento destas soluções sempre uma barreira à sua implementação, também aí Portugal tem atualmente condições excecionais, dado o recente lançamento de programas de apoio ao financiamento deste tipo de soluções, fortemente suportados, porventura pela última vez, por fundos estruturais da União Europeia.

De acordo com as tendências para o futuro, o Big Data continuará a ser uma das mais fortes apostas dos próximos anos. Atualmente, como é que a NEC vê o panorama de Big Data a nível europeu? E em Portugal?

O Big Data é uma tecnologia que só faz sentido quando temos grandes volumes de dados para analisar e correlacionar. Assim sendo, o previsto incremento na utilização de tecnologia Big Data, mais que uma tendência para o futuro de per si, será uma consequência de outras tendências para o futuro que originem cenários de negócio que cada vez mais exijam o processamento de grandes volumes de dados. Desse ponto de vista, é possível identificar duas tendências para o futuro, nucleares, que exigirão cada vez mais o processamento de grandes quantidades de dados e que, por isso, impulsionarão a adoção de tecnologia Big Data. São elas, em primeiro lugar, a Internet of Things, dando origem a soluções como as já descritas na área da agricultura de precisão e das cidades inteligentes. Em segundo lugar, o aumento inexorável da população mundial, que se estima irá crescer dos atuais 7 para mais de 9 mil milhões de pessoas até 2050. Esse crescimento populacional irá levar a que, numa multiplicidade de serviços, se preveja que o número de clientes vá aumentar de forma muito acentuada, gerando volumes de informação muito superiores aos atuais e conduzindo à necessidade de utilizar ferramentas analíticas Big Data, para sustentar a eficiência e rentabilidade dos processos de negócio associados a esses serviços. Dentre estas duas tendências mundiais, será previsivelmente a primeira aquela que, na Europa e em Portugal, mais permitirá sustentar o crescimento do Big Data.

Uma das formas em que o Big Data pode ser usado é nas Smart Cities. A NEC está envolvida em alguma iniciativa para as cidades portuguesas?

Sim, existem contactos com diversas entidades nacionais a respeito de projetos relacionados com as cidades inteligentes.

Apesar de ser cada vez mais uma tendência a nível europeu, em Portugal o investimento ainda é discreto. Trata-se de falta de interesse ou de falta de potencialidades para aplicar à realidade?

Pelos contatos já havidos, interesse existe muito, ou não fosse Portugal, tradicionalmente, um país visto como early adopter em termos de novas tecnologias, e potencialidades para aplicar à realidade, ou seja, problemas e situações onde se podem gerar incrementos de eficiência nos serviços disponibilizados pelos municípios aos cidadãos, também há muitos. O que explica o menor investimento nestas áreas até ao momento, é simplesmente a situação económica mais precária que o País e a maior parte dos municípios têm vivido nos últimos anos. Conforme já referido, porém, temos agora uma nova e porventura ultima janela de oportunidade, até 2020, por via dos novos programas de financiamento suportados nos fundos estruturais europeus, para corrigir esta situação e assegurar que Portugal não perde o comboio de inovação que está prestes a arrancar, no domínio das smart cities e da sua utilização do Big Data.

Cátia Rocha

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