Pode falarmos um pouco sobre o Landing Careers Festival e de como tudo começou?
Pedro Oliveira (PO) – A primeira edição do festival aconteceu em 2015 e o objetivo desse evento, que se chamava Landing Jobs Festival, foi lançar a marca no mercado. Antes disso, a empresa chamava-se Job Box e fizemos um rebranding para Landing Jobs. Fizemos um festival na marina de Lisboa, convidámos algumas empresas a estarem lá como sponsors e fazerem uns pitchs, quase um culture showcase da empresa às pessoas que lá iam, e tivemos 600 pessoas. Um dia à tarde fizemos um passeio de barco com os pitchs e em que se podiam fazer perguntas e correu muito bem. Correu tão bem que decidimos fazer outra vez. O racional foi se correu bem da primeira vez, vamos fazer outra vez.
Assim, na segunda edição, decidimos trabalhar um bocado o conceito. Continuou a ser Landing Jobs Festival e mantivemos a marina e o barco. Tentámos agregar novos conteúdos que permitissem as pessoas pensarem nas suas carreiras e efectivamente serem contratadas. Fizemos uma Job Fair na marina de Lisboa, com bastantes empresas. Vieram empresas da Irlanda, Espanha, Suiça, Alemanha e Reino Unido. A Trivago contratou quase 10 pessoas num dia. Nesse ano tivemos o espaço das empresas, como no ano anterior, mas mais trabalhado, com peer pitches das empresas, em que uma pessoa da equipa de engenharia falava sobre a cultura da empresa. Acrescentámos as talks e juntámo-nos à RedLight, que são nossos parceiros também este ano, e montámos um hackaton. Novamente, correu muito bem. No final de cada evento recolhemos feedback, com scores sempre acima de 9, numa escala de 0 a 10.
Chegámos a este ano e pensámos o que iamos fazer. Fomos a várias feiras de emprego no Reino Unido e outros países, para perceber o que se faz lá fora, e percebemos que não havia nada de especial. Nós somos uma empresa europeia e pensámos vamos fazer algo em grande, que ninguém está a fazer, um festival de Tech Careers, ou se quisermos, um festival de carreiras em tecnologia. E decidimos trabalhar esse conceito.
Como é que desenvolveram o conceito do Landing Careers Festival?
PO – Estivemos a trabalhar, nos nossos escritórios, durante duas semanas até chegar ao conceito e foi quando decidimos mudar o nome de Landing Jobs Festival para Landing Careers Festival e o site. A visão da Landing Jobs é que gostávamos de um mundo em que os profissionais de tecnologia tivessem as ferramentas para tomar as decisões corretas para as suas carreiras. A Landing Jobs é um passo nesse sentido, temos um marketplace que é curated, ou seja, garantimos que as ofertas são todas verdadeiras. Por outro lado, temos os candidatos a quem damos todo o apoio, temos ferramentas, temos uma série de contéudos, etc, que vão nesse caminho. Mas ainda estamos longe de atingir essa visão. Assim, este ano, como somos uma startup e não sabemos se estamos aqui em 2018, decidimos mudar já marca e o site. Tudo o que se faz no festival assenta num deste três eixos: Futuro, Tech e Careers.
O que podemos esperar da edição de 2017 do festival ?
PO – Este ano temos novidades. Há workshops e Expert Sessions, que na prática são testes para ver como corre para os attendees. que vão ser 1500. Todos os participantes do festival são selecionados, não somos um evento elitista mas sim seleto, ou seja, é gratuito mas escolhemos quem vem. Vamos ter workshops sobre job hunting, gestão de carreiras, sobre blockchain e como fazer contratos com essa tecnologia. As Expert Sessions vão ter um modelo de round table ou individual e contam com representantes, por exemplo, da Gaming Industry. Vai participar também o José Paiva da Landing Jobs, o João Barros da Google, entre outros mas está tudo no nosso site Landing.Careers.
Comparado com o ano passado, isto é um salto quântico. E porquê? Porque o venue é o Pavilhão de Portugal, temos o Hackation com 6000 euros de prémios em dinheiro, patrocinado pela Sky, que tem um tech center em Lisboa. As talks que foram todas escolhidas por mim, vamos ter pessoas a falar de Remote Working, Data Science, DevOps, Escalabilidade, Programação, Cultura, Women in Tech, Diversidade, etc. São diversos temas que eu acho que vão abrir a mente às pessoas e os painéis, a mesma coisa. Ainda hoje estive ao telefone com o Todd Glider, que vai dar uma talk sobre VR e pornografia, claro que sobre a parte técnica, que vai ser muito interessante. Ele vai falar de futuro, de tech e de carreiras ligadas à área da realidade virtual. Outra talk vai ser “When robots take over…” e como isso vai afetar as carreiras nas tecnologias. Vamos ter 5 painéis sobre robôs, carreiras, cultura de empresas e outro sobre o mercado português de tecnologia. Depois temos o barco, um boat trip que já vem dos anos anteriores e uma área de VR com uma experiência de como vai ser o trabalho em 2050. Vamos melhorar muito a forma como as empresas fazem os culture showcases, estamos a dar imenso apoio nessa área. Nós notamos que as empresas não sabem mostrar-se, são raras as empresas que sabem e nós sabemos qual é a melhor forma e vamos ajudá-las. É que as pessoas quando pensam na carreira já não pensam só naquele momento, querem saber qual é a margem de progressão na empresa. Este festival é para pensar na carreira. E eu espero aprender algumas coisas que depois possam ser incorporadas nos produtos da Landing Jobs.
Abordando agora um dos temas do festival, como é que a Landing Jobs vê a evolução das carreiras na área das tecnologias, nos últimos anos, em Portugal? Nós tivemos um boom de emigração há uns anos e agora está a acontecer o inverso, concorda?
PO – Na minha opinião, nesta área, as pessoas vão para fora para obter experiência internacional. Vão atrás de algo mais ou já estão fartas da cultura das empresas locais. Hoje, os salários aumentaram um bocadinho e estão a vir para cá imensas empresas. É um fenómeno que, se calhar, o Web Summit veio ajudar porque colocou Portugal mais no mapa, mas começou antes disso. Portugal está na moda. O país está melhor e cada vez há mais eventos. No dia do nosso festival, há 4 eventos de tecnologia de escala, isso é espetacular. E tem de haver mais porque há mercado para isso.
Há muita gente a vir para Portugal, não só portugueses, que vêm para startups e tech centers. O que acontece é que os profissionais portugueses às vezes vêm liderar ou abrir esses tech centers, são das primeiras contratações devido à experiência internacional. A cultura da empresa é diferente porque é internacional e isso é um fator importante. Há também muitos brasileiros a virem para Portugal e alguns europeus, mas neste último caso, são mais freelancers. Uma boa parte das contratações que são feitas via Landing Jobs são recolocações, nós acompanhamos as tendências de mercado.
A Landing Jobs está ligada ao mercado nacional e europeu. Têm planos de expansão para outras geografias?
PO – Para já não. Nós temos uma boa presença na Alemanha, no Reino Unido, Espanha e Portugal, também um pouco na Holanda, e por isso, ainda temos muito potencial de crescimento dentro da Europa.
A vossa startup trabalha com que tipo de empresas?
PO – Isso é algo que queremos acrescentar ao nosso produto, um filtro que permita ver a tipologia das empresas com quem trabalhamos: Startups, Corporate, Consulting e PME´s. As startups são os nossos clientes mais fortes porque gostam da marca, daquilo que estamos a fazer mas também trabalhamos muito com Corporate, mas é mais complicado porque envolve mudar formas de trabalhar. Muitas vezes, as empresas vêm pedir-nos ajuda para fazer Employer Branding. No Reino Unido já se faz Employee Value Proposition (EVP) mas cá estamos atrasos e ainda fazemos Employer Branding, que é basicamente fazer vídeos e outros conteúdos que mostrem como é bom trabalhar em determinada empresa. O EVP é mostrar enquanto empregado o que é que vais ganhar cá dentro, o que a empresa pode oferecer e qual a margem de progressão. Este mercado está virado ao contrário, eu enquanto trabalhador de TI é que tenho o poder.
Quantas ofertas de trabalho tem a Landing Jobs?
PO – Temos cerca de 400 ofertas de trabalho activas e com o festival há sempre um bump. Estamos a chegar quase aos 100 mil utilizadores. E a verdade é que temos muitas pessoas que utilizam a Landing Jobs e depois apagam a conta porque já conseguiram o que queriam e por questões de privacidade. A Landing Jobs ainda não está orientada para carreiras. Por enquanto, fazemos só mudança de trabalho e também damos apoio, mas considero que fazemos um melhor trabalho do que as agências de recrutamento.
Como é que vê a falta de profissionais qualificados de TIC que já se começa a sentir e deve atingir as 15 mil vagas, só em Portugal, segundo as previsões da Coligação Portuguesa para a Empregabilidade Digital (CPED)?
PO – Uma coisa é certa, a trend da falta de pessoas tech vai continuar nos próximos anos. Há muito espaço para quem quiser reconverter-se para esta área porque a maioria das pessoas desta área não são de engenharia informática, como eu. 70 ou 80% são reconvertidos de outras áreas porque as universidades não têm output suficiente. As empresas só têm uma hipótese que é trabalharem melhor, criarem as condições certas e serem inovadoras. Depende muito da cultura que elas querem ter, só depende delas cativarem os profissionais.
O que considera que é necessário para incentivar os jovens a ingressar em carreiras ligadas às tecnologias e assim mitigar a falta de profissionais que já hoje se faz sentir?
PO – Ainda há o estigma do programador, do “bicho do mato”. Como dizia o Bill Gates, “trata bem os geeks que um dia ainda vais trabalhar para eles”. A verdade é que as universidades não têm capacidade para formar a quantidade de pessoas que o mercado necessita, é preciso mais. Acho que a programação funcional devia ser ensinada no básico, logo quando se começa a ensinar o inglês e que estamos atrasados em relação a alguns países. Acho que parte da nossa classe política tem esta noção mas depois não acontece nada. Também sei que é difícil. Considero que temos a responsabilidade para com as nossas crianças de educá-las de forma a que elas consigam, no futuro, tomar as decisões certas para a carreira que quiserem ter e isso não se faz com aprendizagem de determinadas disciplinas, como o francês. Tem de se começar pelas bases porque as crianças depois ensinam os pais.
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