Durante o Fórum da Economia Digital, parte da Portugal Internet Week ’15, Alexandre Nilo Fonseca, presidente da ACEPI – Associação da Economia Digital, organizadora do evento, mostrou que apenas 32 por cento das empresas portuguesas têm presença no mundo online, e que, dessas, 10 por cento têm, efetivamente, um negócio de comércio eletrónico.
“Temos empresas muito pouco sofisticadas”, lamentou o responsável, afirmando que o país está dotado de sólidas infraestruturas que potenciam a transformação digital dos negócios, mas são as empresas que não tiram partido delas para alavancar os seus negócios e para se tornarem mais competitivas, tanto a nível nacional como internacional, onde residem as grandes oportunidades.
Nilo Fonseca afirmou que o comércio transfronteiriço é uma das grandes oportunidades de negócio para as empresas portuguesas, acrescentando que se estima que, até ao fim do ano, as compras online feitas por consumidores nacionais tenham assomado aos três nil milhões de euros.
O presidente da ACEPI finalizou a sua intervenção dizendo que a catalisação da Economia Digital vai potenciar a inserção dos jovens profissionais e recém-licenciados no mercado de trabalho e aumentar o número de PME, e até startups, exportadoras de produtos nacionais. Isto permitirá ao país atenuar a sua dependência de fabricantes de tecnologia estrangeiros.
O secretário de Estado para a Modernização da Administrativa, Joaquim Cardoso da Costa, referiu, no mesmo encontro, que estamos “prestes a dar um salto para a verdadeira integração digital europeia”.
O representante do Governo português disse que é preciso aumentar a confiança do consumidor nas transações realizadas através da Internet, para que possa ser potenciado o crescimento do mercado nacional do comércio eletrónico. Ele afirmou que o Estado, enquanto legislador, regulador e gestor de conflito, desempenha um papel crucial no crescimento desta confiança, garantindo aos utilizadores as melhores e mais seguras ferramentas online. O responsável disse, ainda, que cabe ao Estado, e não só, criar as condições favoráveis à atração de investimento e ao fomento da inovação.
“Os serviços públicos são, também eles, players no ambiente digital”, declarou Cardoso da Costa, referindo-se ao facto de quase 90 por cento da Administração Pública já disponibilizar os seus serviços aos cidadãos através da Internet.
O Mercado Único Digital
E os contornos da Economia Digital não podem ser discutidos sem que se medite acerca do que realmente é a proposta da Comissão Europeia para a criação de um Mercado Único Digital (MUD).
Mário Campolargo, diretor do NetFutures, um braço da Comissão Europeia que se ocupa do fomento da competitividade da indústria tecnológica europeia, subiu ao palco do Fórum da Economia Digital para dizer que a uniformização dos mercados tecnológicos da Europa vai estimular o crescimento além-fronteiras das empresas portuguesas e aumentar a taxa de exportação de produtos nacionais.
Para o consumidor, uma das vantagens é poder contornar o chamado geoblocking. Este conceito define a interdição do acesso a determinado conteúdo online com base na localização geográfica do utilizador. No meio do e-commerce, este problema traduz-se na seguinte situação: um consumidor deseja comprar um produto de uma empresa que tem presença no seu país, mas noutro país, onde também opera, esse item é mais barato e o consumidor quer efetuar a compra com o menor gasto possível. No entanto, vê-se impossibilitado de realizar a compra no website do outro país, pois o seu IP “acorrenta-o” ao seu país de origem, impedindo-o de efetuar transações no portal estrangeiro.
Luísa Gueifão, presidente da DNS.pt e oradora do Fórum, afirmou que este geoblocking é fruto das disparidades entre as legislações que são próprias de cada país, nomeadamente ao nível de direitos autorais e conexos. Ela diz que, para que o MUD possa, verdadeiramente, ser um modelo de fomento do crescimento dos vários mercados tecnológicos europeus, é preciso existir uma uniformização dessas legislações.
No entanto, acrescentou a responsável pela organização gestora do domínio online “.pt”, por vezes são as próprias empresas que aplicam, deliberadamente, este bloqueio, em prol de interesses puramente “economicistas”. Luísa Gueifão defende que estas práticas, prejudiciais para o crescimento saudável da indústria tecnológica à escala europeia, devem ser abolidas.
Por seu lado, Olivier Establet, presidente da Chronopost, acredita que “o mercado cross-border tem um potencial enorme” e que as empresas portuguesas têm de estar preparadas para capitalizar estas oportunidades de comércio transfronteiriço suscitadas pela proposta europeia de uniformização dos mercados tecnológicos. “O Mercado Único Digital é uma oportunidade para as empresas em Portugal”, comentou o executivo.
Mas não podem ser descurados os perigos que o MUD acarreta para as empresas de pequenas dimensões. Com a permeabilização das fronteiras europeias ao comércio na região, a competição crescerá bastante, sendo que os pequenos negócios nacionais, que apenas teriam de competir com os rivais conterrâneos, terão de fortalecer-se e investir na retenção de consumidores para não perderem terreno para negócio estrangeiros. Quanto a este aspeto, Luís Flores, diretor-geral e chairman da Unicre, disse, no encontro, que as empresas portuguesas têm de otimizar as experiências de compra para que consigam conservar o maior número de clientes.
Muitas vezes os consumidores abstêm-se de fazer compras online por receios associados à segurança e à privacidade – ou à falta delas – dos seus dados financeiros no mundo online. Miguel Fernandes, responsável pelas operações do PayPal em Portugal, referiu que a Banca tem, ou deveria ter, como função a promoção do desenvolvimento do comércio eletrónico, designadamente na vertente dos pagamentos. O executivo deu o exemplo de Espanha e Itália, onde os pagamentos online através de cartões de débito são já mainstream, ao passo que em Portugal isso já não é bem assim, o que leva o consumidor a optar por aplicar a técnica ROPO (Pesquisar Online, Comprar Offline).
Para que este Mercado Único Digital possa ser uma realidade bem-sucedida e atingir os objetivos que propõe, é fundamental que as empresas portuguesas deixem de orientar, à partida, os seus negócios para uma dimensão exclusivamente nacional e passem a adotar modelos de negócio que coloquem nas suas miras os mercados internacionais. Maria Antónia Saldanha, diretora de comunicação da SIBS, disse que este é um problema de mindset das empresas nacionais, que tem, necessariamente, de ser revertido. Para além disso, como disse João Sousa, do Comité Executivo da Portugal Telecom, temos que valorizar o produto com selo português e começarmos a ser produtos de tecnologia, ao invés de estarmos dependentes de produtos fabricados no estrangeiro.
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