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EIT Health divulga relatório sobre potencial da saúde digital em Portugal

Mais de vinte especialistas – representantes da indústria, associações de doentes, reguladores, para além da EIT Health, aderiram à mesa redonda portuguesa que decorreu este outono, em Lisboa, na sede da Glintt, uma multinacional especializada em tecnologia para o mercado da saúde.

Com vinte anos de prática em telemedicina, Portugal enfrenta atualmente alguns desafios em relação a um maior desenvolvimento neste campo. Embora 87% dos hospitais públicos recorram à telemedicina – de acordo com uma pesquisa de 2019 publicada pela Glintt, Global Intelligent Technologies – apenas 44% dos profissionais de saúde estão motivados para a sua utilização. Além disso, como a pesquisa revela, ainda há uma visível falta de know-how e infraestruturas de TI adequadas nesta valência. No entanto, 64% dos consumidores afirmam que é conveniente ter acesso à saúde virtual. Isto permite definir uma clara tendência em direção ao desenvolvimento e adoção de soluções digitais de saúde. Portugal encontra-se numa situação privilegiada devido à ampla e ativa comunidade de inovação e interesse de novos talentos. Por exemplo, as startups e investigadores portugueses são um dos mais ativos nos programas europeus de educação e aceleração realizados pelo EIT Health.

“O número de startups e empresários portugueses que participam nos nossos programas de aceleração e educação europeus aumenta ano após ano. São geralmente muito competitivos, ocupam lugares de topo e criam soluções de saúde realmente revolucionárias que estão a ser reconhecidas a nível pan-europeu. Apenas para mencionar alguns: stents biodegradáveis, inteligência artificial para identificação precoce de sinais de doenças neurodegenerativas ou aplicativos médicos que ajudam a gerir as doenças de uma forma mais prática, simplificando o atendimento domiciliar. Em muitos casos, esses são produtos prontos a consumir e exemplos de inovações orientadas para as necessidades detetadas. A questão principal ainda está no processo de adoção destas novas tecnologias no mercado, incluindo o sistema público de saúde”, afirmou Nuno Viegas, Business Creation & Manager Regional da EIT Health InnoStars.

Um relatório recente da Deloitte (Global Health Care Outlook de 2019) revelou que 64% dos consumidores assumem um forte interesse em soluções de telemedicina que lhes permitem gerir a sua saúde remotamente. Como é que Portugal pode melhorar, desenvolver e adotar soluções inovadoras em saúde? As recomendações apresentadas no relatório regional do EIT Health Think Tank referem-se a todas as etapas do processo de inovação: das ideias iniciais, à fase de concretização na entrada no mercado e da adoção da solução.

“Atualmente, vivemos num mundo digital, onde todos dependem da tecnologia. Temos que mudar essa atitude para o setor de saúde. Precisamos esclarecer as necessidades e os resultados dos cidadãos de forma a podermos criar melhores caminhos de inovação com a ajuda do conhecimento científico atual”, referiu Filipa Fixe, membro do Conselho Executivo da Glintt, durante a mesa-redonda.

Entre as recomendações, o relatório indica a necessidade de desenvolvimento de uma abordagem mais integrada dos cuidados prestados aos cidadãos – é necessário criar um ecossistema que permita juntar as partes interessadas, organizações e instituições mais inovadoras, no sentido de trabalharem em conjunto em objetivos concretos, de forma a procurarem produtos e soluções médicas sustentáveis. Nas fases iniciais do caminho, várias são as barreiras com que os investigadores se deparam no acesso a pessoas com poder de decisão e a locais de prestação de cuidados de saúde necessárias para ensaios clínicos, que é um primeiro componente crucial para qualquer solução de telemedicina em saúde.

Associado a isso, é necessário facilitar acesso aos pacientes que possam vir a utilizar a solução em desenvolvimento, permitindo que a necessidade real do paciente seja avaliada e, dependendo da solução, permitir que a mesmo possa ser codesenvolvida com os potenciais utilizadores. Há também uma lacuna em relação à saúde e à literacia digital em saúde entre cidadãos e cuidadores. Os especialistas indicaram a necessidade de aumentar a consciencialização sobre o processo de inovação, incrementando as capacidades técnicas através de formação, educação, programas de certificação dirigidos não apenas a estudantes, mas também a profissionais, locais de transferência de tecnologia e reguladores.

“Na EIT Health, promovemos uma educação inovadora e abrangente que procura envolver profissionais na área da saúde, estudantes, paciente e cidadãos. O objetivo é aumentar a literacia na área da saúde em novas tecnologias e permitir uma melhor comunicação entre os vários grupos durante o desenvolvimento de uma nova solução ou produto na área da saúde. Com isso, esperamos induzir otimizações significativas na área da saúde para benefício dos cidadãos e contribuir para aumentar a prevenção de doenças, melhorar a qualidade de vida na Europa, reduzir custos e facilitar o tratamento de doenças crónicas. Organizamos anualmente cerca de 50 programas e formações diferentes, para estudantes, empreendedores, executivos e profissionais, além de cidadãos”, acrescentou Nuno Viegas, diretor do EIT Health em Portugal.

Existe também uma forte necessidade relativamente à otimização da avaliação das tecnologias em saúde. “Ainda nos encontramos a medir e a avaliar os cuidados de saúde de acordo com indicadores desadequados e demasiado tradicionais, é necessário alterar este padrão, não só a nível regional, como também europeu. Colocar o foco nas inovações em fase inicial e financiá-las é a chave “, sublinhou David Magboule, fundador do LabToMarket durante a discussão da mesa redonda.

Os especialistas destacam que é necessário um foco no desenvolvimento de inovações que procurem resolver um problema de saúde ou para o qual os mercados ainda não disponham de uma solução imediata. Isto requer o envolvimento precoce de consumidores, pacientes e hospitais no processo de criação de novas soluções e no levantamento das suas necessidades e pontos de vista. Para além disso, é necessário trabalhar em conjunto com governos e autoridades reguladoras de forma a facilitar o processo de inovação e a criação de novos produtos de saúde. Isso não se aplica apenas ao sistema de saúde português, mas  a todo o sistema europeu, que terá que se adaptar às novas tecnologias e implementar o recurso a serviços como a telemedicina, além de favorecer o processo de implementação e licença de novas tecnologias.

Os relatórios regionais de Portugal e de outros 6 países – Espanha, Alemanha, Suécia, Reino Unido, França e Bélgica – serão discutidos no início de 2020 durante uma mesa-redonda da UE organizada pelo EIT Health Think Tank, com o objetivo de criar recomendações gerais para a Comissão Europeia.

Redação Silicon

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