Cloud, Mobilidade e Big Data são tendências tecnológicas com o dom da ubiquidade – estão em todo o lado e nada lhes consegue ficar indiferente. O data center não é exceção, pelo que é com naturalidade que temos vindo a assistir a uma alteração de paradigma do que é um centro de dados e do como deve ser construído. Assim, as principais transformações estão, sobretudo, associadas às tecnologias de virtualização, sofware-defined e cloud computing, sendo que a utilização destas tecnologias pode provocar um impacto profundo nos data centers, desde a componente física até à gestão dos sistemas, passando pelos consumos energéticos.
Com algumas exceções ao nível de grandes multinacionais e do sector da banca, há uns anos atrás, estas infraestruturas eram construídas tendo em conta as necessidades específicas de cada cliente, apresentando uma disponibilidade, capacidade de armazenamento e processamento média/baixa. Mas agora a realidade é outra e está em curso um processo de transformação.
“Com a cada vez maior movimentação de muitas empresas para a cloud, que só por si já traz a grande vantagem de uma maior eficiência energética ao nível global, bem como a redução de custos com a energia para as empresas ou organismos que optem por este tipo de serviço, estamos a assistir à criação de infraestruturas de data center altamente complexas e de elevadas capacidades, como são os exemplos os centros de cloud”, destaca Paulo Dias, IBM Site & Facilities Offering Leader.
No fundo, atualmente, o principal desafio do data center passa pela capacidade de adaptação à mudança. Não só a nível das tecnologias e soluções, mas sobretudo na mudança da forma de pensar, como explica Vítor Baptista, EMEA Senior Enablement Manager da EMC Data Protection & Availability Division: “Nos dias atuais, estamos a assistir à transição da chamada Segunda Plataforma para a Terceira Plataforma. Ou seja, a transição de soluções desenhadas com base em tecnologias e arquiteturas dos anos 1990, como, por exemplo, arquiteturas cliente-servidor, para soluções sustentadas na mobilidade, maior dinâmica e maior volume de dados e utilizadores. As organizações que não forem capazes de se adaptar arriscam-se a enfrentar sérios problemas a médio-prazo.”
Contudo, apesar de tudo, as empresas ainda sentem alguma reticência no que concerne à migração dos dados de um centro de dados físico para uma cloud. “Portanto, é fulcral que as empresas partilhem cada vez mais o trabalho que estão a fazer com a cloud, de forma a que os restantes players ganhem confiança e avancem sem medos para esta inovação”, sublinha Daniel Cruz, Territory Manager da NetApp Portugal. “Por outro lado, é também necessária uma espécie de ‘evangelização’ dos colaboradores acerca das vantagens que o avanço da tecnologia traz e de que forma é que elas podem beneficiar a empresa. Hoje em dia, a tecnologia já permite que algumas cargas de trabalho estejam na cloud privada do cliente e outras num service provider, interoperando de forma simples e não disruptiva”, acrescenta.
Se, a nível técnico, os centros de dados devem converter-se num ambiente dinâmico que permita automatizar múltiplas tarefas e transformar as TI num ativo capaz de responder às necessidades dinâmicas dos negócios, a nível operativo as preocupações dos CIOs passam por reduzir custos, aumentar a agilidade das empresas e ajudar os restantes departamentos a gerar valor, de acordo com Pedro Gomes, Product Sales Specialist para Data Center da Cisco Portugal. Uma opinião que é igualmente defendida por Gabriel Coimbra, Country Manager da IDC Portugal: “O grande desafio que os centros de dados corporativos hoje enfrentam é o de responder aos desafios de negócio das suas organizações de uma forma ágil e eficiente. Neste contexto, a capacidade e a evolução para o conceito de cloud privada é fundamental.”
E quando se aborda os níveis de disponibilidade, capacidade de processamento e armazenamento, estamos imperativamente a falar de consumos – problemática que tem sido a alavanca de muitas transformações tecnológicas nos centros de dados, principalmente ao nível da refrigeração. Hoje em dia, quem nunca ouviu falar de sistemas de refrigeração ‘Free Cooling’, fecho dos corredores quentes e/ou frios, energias renováveis ligadas a data center…?
Desenganem-se os que pensam que esta é uma temática menor, pois o seu impacto na fatura das empresas é brutal. Nos centros de dados, a eficiência energética é medida por uma grandeza que se convencionou como Power Usage Efectiveness (PUE), que se traduz pela relação entre a carga IT e a carga total consumida pelo data center para assegurar o funcionamento dessa carga. Esta eficiência é até relativamente fácil de medir, mesmo em centros de dados cuja monitorização seja pouco sofisticada ou inexistente, uma vez que a carga IT se encontra disponível na saída das UPS e a carga total é mensurável com maior ou menor dificuldade.
Pedro Magalhães, IT Systems Engineer da Schneider Electric Portugal, explica-nos que, se tivermos em consideração a boa prática de dimensionar um centro de dados para uma potência média IT de 2kW/m2, então uma sala de 50m2, consome 100kW de carga IT. Com um PUE tradicional que, com frequência, é de 2.4, o custo anual de energia elétrica a valores de 0,11 euros por kW/h com 23% de IVA, é de cerca de 285 mil euros. Se, com melhores soluções de eficiência, reduzirmos o PUE para 1.3, banal com as soluções de arrefecimento nas filas, então o custo anual será de cerca de 155 mil euros, o que significa uma poupança anual de 130 mil euros!
Importa ainda referir duas questões importantes: a primeira é de que 50m2 representa um pequeno centro de dados; a segunda é que a reconversão total de um data center desta dimensão para uma filosofia de nova geração tem um custo normalmente inferior a 150 mil euros, resultando num ROI (Return Of Investment) de cerca de um ano. Ainda há alguém indiferente à vertente da eficiência energética?
Rentabilizar com soluções Flash, SDN e UPS
É um facto que as transformações nos centros de dados corporativos variam muito em função da maturidade tecnológica de cada organização, mas Gabriel Coimbra salienta que as organizações mais maduras já fizeram os seus data centers evoluírem no sentido de virtualizarem a infraestrutura, automatizarem os processos e adotarem soluções convergentes e transformarem-se em clouds privadas. Aliás, segundo as pesquisas da IDC em Portugal, verificou-se que 90% das grandes organizações já utilizava a virtualização em finais de 2013, cerca de 60% já tinha automatizado parte dos processos, mas menos de 25% já tinha iniciado a convergência das suas infraestruturas e menos de 5% dispunha de clouds privadas.
Assim sendo, quais as grandes tendências tecnológicas que estão a encaminhar o data center para os píncaros da otimização e vão ter um crescimento exponencial nos próximos anos? Uma delas é a utilização de Flash. “Nos últimos anos, as novas tecnologias Flash desenvolveram-se de várias formas e atingiram uma fiabilidade muito alta e uma performance fora de série, com uma latência consistentemente baixa, tornando-a adequada para clientes que são afetados por processamento demorado”, frisa Daniel Cruz da NetApp. Desde a redução dos custos em TI, acelerando as entradas e saídas do armazenamento, para que múltiplas cargas de trabalho possam utilizar o mesmo array de armazenamento, até decisões em tempo real para verticais de negócio, com uma performance melhorada em estruturas de armazenamento de forma a beneficiar várias aplicações verticais, a tecnologia Flash parece que veio mesmo para ficar.
Outro bom exemplo são os Software-Defined Data Centers (SDDC), cuja principal vantagem é a flexibilidade e respetiva dinâmica para gerir os recursos. Ou seja, com uma implementação SW-Defined é mais simples e eficaz retirar proveito e gerir diferentes equipamentos e plataformas de fabricantes diversos, possibilitado assim um maior leque de opções e, no limite, uma melhor escolha. Vítor Baptista da EMC refere que a evolução dos SDDC irá, certamente, passar por uma cada vez maior abertura e interoperabilidade. Irão também ser disponibilizados serviços de TIC baseados, na sua maioria, em arquiteturas SDDC através das clouds públicas. “Os prestadores de serviços têm, nesta área, um papel fundamental para a disseminação dos SDDC, permitindo que, cada vez mais, qualquer tipo de organização (de qualquer dimensão) possa retirar proveito de serviços mais dinâmicos e eficientes”, afirma.
Do ponto de vista da eficiência energética, os desafios que os centros de dados enfrentam estão essencialmente relacionados com as soluções de UPS a adotar (Tradicionais vs Modulares) que ainda se utilizam na conceção de novos data centers, e, acima de tudo, com as soluções de ar condicionado adotadas. “Isto porque, do ponto de vista das soluções dos equipamentos de Tecnologias de Informação, que são outro fator importante de eficiência, a maior parte dos centros de dados segue muito rapidamente uma tendência universal, no sentido da implementação de soluções de ‘Green Grid’, ou seja, na utilização de soluções de virtualização e ‘Blade Servers’”, refere Pedro Magalhães da Schneider Electric. “É, de facto, na eficiência da infraestrutura que muito há ainda a fazer e a melhorar”, conclui.
Com este processo de transformação em curso, atualmente fará mais sentido ter uma abordagem holística ou ‘best-of-breed’ ao data center? As opiniões dividem-se. A IBM, por exemplo, sempre defendeu que a abordagem que se faz a este tipo de infraestrutura passa por ter uma visão integral do data center, pela complexidade dos sistemas e rede de interações entre os vários componentes. Por outro lado, Cisco e NetApp – que têm uma parceria para o produto FlexPod (que conjuga capacidades de armazenamento, computação e switching) acreditam que faz mais sentido a aproximação ‘best-of-breed’. “Hoje em dia, as companhias com liderança tecnológica nas suas áreas de especialização procuram parcerias para criar ofertas convergentes de forma a minimizar o time-to-market dos seus clientes”, salienta Daniel Cruz.
Data centers nacionais ganham ou perdem para os internacionais?
Independentemente da abordagem escolhida, estarão os data centers nacionais muito atrás dos seus congéneres internacionais? “Há alguns com uma grande qualidade e outros com qualidade um pouco pior”, alerta Pedro Gomes da Cisco. “Em geral, os centros de dados cresceram de forma descoordenada e, na sua maioria, estão sobredimensionados e subutilizados, pelo que não são suficientemente eficientes, simples nem ágeis para se adaptar às grandes tendências que todos conhecemos: mobilidade, virtualização e cloud computing”, acrescenta.
Gabriel Coimbra da IDC afina pelo mesmo diapasão e acredita que o mercado nacional está numa fase menos desenvolvida do que as referências internacionais em termos de automatização de processos e adoção de soluções convergentes. Mas Daniel Cruz da NetApp defende que há exceções: “Acreditamos que os grandes centros de dados em Portugal estão ao mesmo, senão em alguns casos melhor, nível de qualidade que os estrangeiros. Hoje em dia, existem normas e certificações que são standards mundiais na construção de data centers e em Portugal já existem alguns que cumprem os níveis mais elevados dessas certificações.”
A mesma opinião tem Vítor Baptista da EMC: “Muitos dos data centers nacionais são considerados referências a nível internacional. Desde há muito que as nossas organizações e, sobretudo, os principais prestadores de serviços têm vindo a efetuar investimentos que resultam na modernização dos centros de dados. É comum vermos em Portugal centros de dados realmente eficientes, não se limitando às tecnologias residentes, mas incluindo também o design, os layouts, os mecanismos de refrigeração ou sistemas de segurança – obviamente, sem esquecer um dos ativos mais relevantes, as pessoas.”
Por sua vez, Pedro Magalhães da Schneider Electric acredita que, tanto em Portugal como no estrangeiro, existem diferentes realidades. “É, no entanto, percetível que os centros de dados de menor dimensão têm observado uma mais rápida evolução tecnológica”, destaca. “É precisamente nos de maior dimensão que a atualização tecnológica se encontra mais atrasada”, acrescenta. Na sua opinião, este facto deve-se a uma menor flexibilidade de intervenção, a uma menor abertura a novas soluções e a uma maior necessidade de investimento quando se pretende implementar mudanças. Uma realidade que, no entanto, não difere da de outros países.
Portanto, se compararmos os nossos centros de dados com os existentes no estrangeiro, obtemos uma cópia quase indelével da realidade da nossa economia. Estamos melhores relativamente a uma percentagem significativa, piores do que uma elite e ao mesmo nível dos que se nos comparam. “Neste aspeto, com o investimento efetuado durante a década passada, a média dos nossos centros de dados, garantidamente, não nos colocam numa posição inferior”, refere Pedro Magalhães. A crise que se instalou depois de 2008 e, principalmente, após o resgate que sofremos, impactou dramaticamente esta metamorfose. No entanto, o aumento dos projetos nesta área em 2014 é já um dado visível. Para isso, muito contribuem os fundos comunitários do QREN, quer para entidades públicas, quer para privadas.
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