Brasil permite expansão do negócio da Ábaco
A percentagem que a internacionalização tem no negócio da Ábaco Consultores é atualmente superior a 40% do volume total de vendas. E a previsão é que ainda este ano, pela primeira vez, metade da faturação seja conquistada fora de Portugal. João Moreira, CEO da Ábaco, disse à B!T que a aposta que a Ábaco Consultores fez ao estabelecer uma presença no Brasil é para manter e reforçar nos próximos anos, fruto dos excelentes resultados obtidos até à data.
B!T – Têm escritórios em São Paulo e Rio de Janeiro. Que percentagem representa hoje o mercado brasileiro dentro do negócio da Ábaco?
João Moreira – A internacionalização foi uma aposta estratégica da Ábaco Consultores e é parte integrante do seu posicionamento enquanto fornecedor líder de soluções baseadas em plataformas SAP. Dado o dinamismo e dimensão do mercado brasileiro, para além das naturais afinidades linguísticas, lançámos uma operação no Brasil em 2010. Atualmente, os escritórios em São Paulo e no Rio de Janeiro constituem uma parte integrante da organização da Ábaco.
B!T – Que percentagem do negócio é realizada fora de Portugal?
JM- A percentagem que a internacionalização tem no negócio da Ábaco Consultores é atualmente superior a 40% do volume total de vendas e a nossa previsão é que ainda este ano possamos, pela primeira vez, ter mais de metade da nossa faturação fora de Portugal. A aposta que a Ábaco Consultores fez ao estabelecer uma presença no Brasil é para manter e reforçar nos próximos anos, fruto dos excelentes resultados obtidos até à data. Este crescimento no Brasil tem permitido entrar em novos segmentos de mercado em que não operava em Portugal, como é o caso da banca, onde estamos a participar numa das maiores implementações SAP na América Latina. Para além disso, continuamos a consolidar o posicionamento da empresa nos sectores que identificámos como estratégicos para a operação, nomeadamente a engenharia e construção; industria alimentar; confeção, calçado e têxtil, com referência especial a este último, em que somos líderes no mercado brasileiro.
B!T – O que difere no negócio feito em Portugal e no Brasil?
JM – A diferença entre o negócio feito em Portugal e no Brasil não reside nas soluções, que são similares, embora adaptadas à realidade fiscal e económica do país e à dimensão dos projetos que, no caso do Brasil, são bastante maiores. Ao nível das soluções, no Brasil uma fatia maior do negócio é relativa à implementação de soluções em clientes do sector têxtil, um sector também de referência em Portugal. A dimensão do mercado obriga a um maior controlo e formalismos na gestão e direção de projetos e também cria algumas condicionantes, em resultado da diversidade e distância geográfica de um país continental como é o Brasil, mas não tem sido um óbice ao crescimento, dada a concentração geográfica dos clientes da empresa nos principais eixos industriais do país.
Resumindo, a Ábaco Consultores tem vindo a registar um crescimento sustentado em Portugal e no Brasil contudo, é neste último que têm surgido os maiores negócios, fruto da sua dimensão e do próprio dinamismo da economia nacional.
B!T – Que tipo de operação têm no Brasil? Quantos profissionais têm e com que competências?
JM – No Brasil temos dois escritórios a operar em pleno. Estes escritórios, que se localizam em São Paulo e no Rio de Janeiro, permitem cobrir de forma eficiente as mais importantes áreas industriais do país, no eixo Rio de Janeiro – São Paulo e ainda Belo Horizonte, não obstante também termos negócios noutras regiões geográficas. No total temos aproximadamente 70 colaboradores no Brasil, do total de 170 profissionais que atualmente constituem a equipa da Ábaco. Um ponto importante que destacaria relativamente ao Brasil é que, fruto do trabalho desenvolvido de forma consistente ao longo dos últimos anos, a Ábaco Brasil foi convidada a integrar o Conselho Estratégico de Parceiros SAP no Brasil, constituído por um grupo restrito de oito parceiros, o que constitui um claro testemunho do reconhecimento da sua qualidade e valor.
B!T – Há outras geografias a serem estudadas? Quais e porquê?
JM – Neste momento continuamos a apostar no crescimento nos espaços em que operamos de forma permanente, e que são o Brasil e a Europa, em modelo nearshore. Dado o potencial de crescimento destes mercados e o facto de continuarmos a crescer de forma sustentada sentimos que a estratégia delineada está a ser bem sucedida, e pretendemos manter a aposta na consolidação e crescimento nestas geografias. No entanto, mantemos a nossa atenção às realidades e evolução dos mercados internacionais, pelo que iremos continuar a avaliar oportunidades de crescimento e de negócio noutras geografias. Nesse sentido, a Ábaco tem desenvolvido projetos num leque alargado de países, em 15 países de 3 continentes. É nestas regiões que temos definida uma shortlist de países em que estamos a apostar de forma mais clara: Europa Ocidental, sobretudo Suíça, Espanha, França, Alemanha, Reino Unido e Holanda; África, nomeadamente países de expressão portuguesa mas também África francófona; e a região LATAM, com prioridade no México e Colômbia.
Internacionalização faz parte da estratégia
B!T – Quais as expectativas que têm face à internacionalização?
JM – A internacionalização é uma parte importante no futuro da empresa a médio e longo prazo. Atualmente, com uma aposta importante no Brasil, a Ábaco Consultores pretende assumir uma posição que lhe permita ser considerada uma referência em soluções SAP em Portugal e no Brasil. As nossas expectativas são assim de crescer e consolidar a nossa posição nos mercados onde operamos.
A aposta no Brasil permite-nos manter ritmos acelerados de crescimento, fruto também do ritmo mais rápido de crescimento que o País tem atravessado, com uma forte aposta no desenvolvimento de infraestruturas, e potenciando a nossa já longa ligação com a SAP.
A nossa expectativa, face a uma menor dinâmica do mercado nacional, que limita crescimentos mais acentuados, é que os mercados internacionais venham a constituir-se como um importante fator do crescimento da Ábaco. A nossa aposta na excelência das soluções e das implementações que temos vindo a desenvolver é o melhor cartão-de-visita que temos, para além da satisfação que os nossos clientes internacionais nos manifestam relativamente aos projetos desenvolvidos.
B!T – Em que medida o mercado tem vindo a sofrer mutações nos últimos dois anos?
JM – Na sequência da mais recente crise financeira, com as consequências em termos de austeridade que sentimos no território nacional, o mercado sofreu alterações importantes para as empresas. Essa mudança passou por uma diminuição de investimentos, uma tendência que tem sofrido recentemente uma inversão, por uma maior pressão negocial e por uma maior exigência ao nível do retorno de negócio dos investimentos efetuados. Dada a aposta feita na excelência, que teve como consequência o reconhecimento pela SAP através das certificações já referidas, a Ábaco Consultores posicionou-se bem para este período, ganhando diversos projetos em Portugal e em mercados internacionais, demonstrando ao mercado o seu expertise em soluções de TI e, em especial, em soluções SAP.
Retoma é real
B!T – As empresas, hoje, já estão a retomar os investimentos em TI ou ainda continuamos a assistir ao adiamento desses investimentos?
JM – Acredito que estamos a iniciar um ciclo de alguma retoma de investimento, principalmente das empresas que apostaram na internacionalização, mas com as condicionantes já elencadas, e que são uma maior pressão ao nível dos custos do projeto e uma crescente exigência por parte dos clientes. Este é um fenómeno que veio para ficar, e que se reflete em todos os sectores.
B!T – Do vosso portfólio, o que vos é mais requisitado?
JM – As nossas soluções estão focadas na plataforma SAP, o parceiro estratégico de negócio da empresa. Neste particular temos trabalhado de forma alargada com as diferentes soluções SAP (SAP Business All-in-One, Business One, Business Objects, SAP Mobile Platform, SAP Cloud Solutions), para além de dispormos de um serviço de manutenção diferenciador, com um apoio de excelência no suporte e evolução dos seus sistemas de informação. Temos ainda apostado nas áreas de investigação para a implementação de projetos inovadores e desenvolvimento de novos produtos, nomeadamente no desenvolvimento de soluções verticais por área de negócio. Os sectores considerados estratégicos para a Ábaco incluem a engenharia e construção, indústria alimentar, a confeção, calçado e também o têxtil. Neste momento, e fruto da retração no primeiro, os outros sectores têm vindo a apresentar um maior dinamismo, fruto do crescimento destes sectores.
B!T – Pela vossa experiência no mercado, e relativamente aos seus sistemas de informação, onde estão as empresas nacionais mais desfalcadas?
JM – A nossa experiência de mercado diz-nos que as empresas continuam a apostar na mobilidade e tendencialmente nas áreas de gestão de informação em sentido lato. Isto deve-se ao estado de maturidade do mercado, onde o tradicional ERP já não constitui de per si um diferenciador. Com a proliferação da informação, onde as redes sociais têm um papel importante, verificamos um interesse crescente pela incorporação de informação comportamental, proveniente de diferentes fontes, na gestão do negócio dos nossos clientes. Quer seja numa perspetiva preditiva, quer seja pela necessidade de tomada de decisão em tempo real, quer simplesmente pelo conhecimento e compreensão dos padrões de consumo e tendências de evolução do mercado. Isto traz novos desafios aos departamentos de TI das organizações nomeadamente ao nível da integração, segurança e gestão do ciclo de vida da informação, tendo-se observado uma procura crescente de soluções nesta área.
B!T – Os objetivos que delinearam para 2014 estão a ser cumpridos?
JM – Em 2014 a Ábaco tem mantido o seu crescimento, sendo que os dados do primeiro semestre do ano mostram um aumento de 27% no volume global de negócios contribuindo a operação do Brasil com 39 % desse valor, perspetivando um crescimento para este ano próximo dos 60%. Ainda assim, em Portugal continua a crescer acima do mercado tendo ultrapassado já os 10% de taxa de crescimento face a igual período do ano passado. Ou seja, os objetivos delineados para 2014 estão a correr de forma extremamente positiva e a nossa expectativa é conseguir manter no segundo semestre o ritmo registado até ao final do primeiro semestre.
B!T – E o que esperam do próximo ano?
JM – Para 2015, gostaríamos de manter um bom ritmo de crescimento. Ao longo do último ano desenvolvemos diversas iniciativas com o objetivo de valorizar as soluções e know-how que a Ábaco Consultores tem mantido. Para além da consolidação da nossa operação internacional (São Paulo e Rio de Janeiro), iremos estar atentos às oportunidades que surjam em outros mercados internacionais em que as nossas competências sejam diferenciadoras.
Para Portugal a nossa expectativa passa por aumentar o volume de negócios e continuar na senda de crescimento que temos vindo a registar de forma consecutiva ao longo dos últimos anos. Pretendemos crescer a nível interno dois dígitos e consolidar a nossa posição de referência no mercado nacional. É expectável, face ao mais rápido ritmo de crescimento do mercado brasileiro e da sua dimensão, que este aumente o seu peso na faturação global da empresa.
B!T – Estes tempos particularmente duros em termos de restrições económicos que tipo de desafios vieram trazer a uma empresa como a Ábaco?
JM – A crise foi um fenómeno global. Originária do sector financeiro, teve impactos diferentes consoante a solidez e competitividade de cada economia nacional. A nível económico, o seu principal impacto sentiu-se na retração da economia e numa muito maior preocupação quanto aos custos e benefícios das soluções selecionadas. A Ábaco, fruto da sua estratégia de internacionalização em curso e da aposta na excelência que lhe permitiu crescer num mercado nacional em contraciclo, conseguiu atravessar este período de maior contenção sem contratempos, mas naturalmente sentiu a pressão nas margens e no nível de exigência dos seus clientes. De qualquer modo, a gestão sempre se pautou por uma grande prudência e investimentos sustentados, pelo que conseguimos enfrentar da melhor forma este período e preparar-nos assim para a retoma do investimento que esperamos venha a registar-se no próximo ano em Portugal, ao mesmo tempo que mantemos o nosso crescimento em mercados com mais elevado potencial, como é o caso do Brasil.