Está a Amazon a virar as costas aos autores autopublicados?
Menos de um cêntimo por cada página lida é quanto os autores de livros mais pequenos arriscam-se a ganhar sob o novo modelo de pagamento de royalties da Amazon.
A empresa dissera que os autores passariam a ser pagos mediante o número de páginas lidas e não pela quantidade de vezes que o livro é requisitado, contabilizando o tempo que o leitor despende em cada página.
Diz o The Guardian que, sob este novo sistema, alguns autores que escolhem publicar as suas próprias obras, e as disponibilizam na plataforma Kindle Owner’s Lending Librabry ou no serviço Kindle Unlimited, poderão não receber mais do que 0,006 cêntimos de dólar por página lida. Desta forma, os criadores de obras com mais páginas têm uma maior probabilidade de serem mais bem pagos, mesmo que o conteúdo seja tão bom ou pior que o de um livro menos volumoso.
Para que um autor consiga, sob este novo modelo, embolsar os mesmos 1,30 dólares que ganhava com um download, terá de criar uma obra com 220 páginas – e fazer figas para que todas elas sejam lidas.
Os autores autopublicados poderão ver, assim, as suas royalties caírem tanto como 80 por cento.
Poderá pensar-se que ao aplicar este novo sistema de pagamento (que é algo como ceifar os autores independentes), a Amazon está a querer reconfigurar as suas bibliotecas, com escritores de obras maiores. Contudo, a qualidade não pode ser mensurada pelo número de páginas, pelo que, ao expurgar das suas prateleiras digitais livros menos volumosos, está, por exemplo, a eliminar livros infantis, que não tendem a ser muito extensos. Resta, então, saber qual é, ao certo, a intenção da Amazon. Será compensar os autores pela capacidade que as suas obras têm de captar a atenção e o interesse do leitor? Ou, observando através de uma lente mais obscura, estará a procurar elitizar as suas bibliotecas, com pesadas obras, cujos conteúdos podem ficar atrás daqueles de um livro que nem chega às 150 páginas?