Administração Pública precisa de um maior investimento

A atual conjuntura económica, que ensombra todos os setores de atividade em Portugal, tem cada vez mais exigido de todas as organizações estratégias de contenção de custos, de otimização de sistemas e de maximização de produtividade, eficiência e de agilidade de processos. Neste âmbito, e como foi discutido no 24º Congresso das Comunicações, a Administração Pública tem sido alvo de reformas que visam dotar as instituições do setor de ferramentas que permitam a modernização dos sistemas e o aprimoramento dos serviços disponibilizados aos cidadãos. No Congresso foram discutidos os impactos das TIC nesta reconfiguração da Administração Pública e na vida dos próprios cidadãos.

Moderador do painel “Administração Pública” e jornalista da RTP, João Adelino Faria deu início ao debate apontando que Portugal, dada a sua corrente situação económico-financeira, atua sob o mote “Fazer mais com menos”, referindo-se à falta de fundos para investimentos que têm, de alguma forma, condicionado a modernização das infraestruturas e dos sistemas públicos.

Em representação da Administração Pública austríaca, Christian Rupp, responsável pela plataforma digital do governo, referiu que a digitalização dos serviços de governance permite a redução do volume de documentação em papel, mitigando custos de manutenção, de impressão e de gestão, paralelamente ao aumento da eficiência dos processos.

O austríaco acrescentou que a aposta na literacia digital e os investimentos no setor das TIC promovem o crescimento do país, o maior acesso a plataformas digitais e às informações integradas na esfera virtual.

Num segundo momento, Paulo Neves, presidente do Conselho Diretivo da Agência para a Modernização Administrativa, afirmou que Portugal peca pela falta de desenvolvimento de práticas de autenticação digital nos serviços de Administração Pública. Após ter reiterado que Portugal destaca-se pela débil taxa de utilização de Internet (face à média europeia), Paulo Neves disse que é premente a exploração da interoperabilidade das diferentes entidades da Administração Pública, de forma a existir a partilha de informações dos cidadãos-utilizadores.

O representante da AMA afirmou que “as TI são um poderosíssimo elemento de mudança”, que reformatará os serviços da Administração Pública e, consequentemente, a relação entre cidadãos e entidades de governança.

Por sua vez, Maria Manuel Leitão Marques, que coordenou o Programa Simplex, asseverou que a implementação de projetos diruptivos, inovadores – avançando o Cartão do Cidadão como exemplo -, é muitas vezes impossibilitada pela carência de interoperabilidade e de resistências por parte das entidades públicas envolvidas nos processos. Os sistemas de informação são elementos que, segundo a investigadora do Estudo de Centros Sociais, exigem gestão e investimentos contínuos e necessitam de competências internas às entidades da Administração Pública para operarem devidamente, o que só é conseguido com uma aposta sólida na inclusão digital. “O Estado tem de ser inovador para continuar a ser relevante”, sentenciou.

Quando Jaime Quesado tomou a palavra afirmou que Portugal está hoje nas linhas da frente em termos de inovação de infraestruturas, acrescentando que são necessários os investimentos na qualificação dos quadros profissionais da Administração Pública. O presidente da Entidade de Serviços Partilhados da Administração Pública (ESPAP) afirmou que é imperativa a racionalização dos Recursos Humanos e dos recursos financeiros, para que, desta forma, possa alcançar-se uma mais eficaz e eficiente dinâmica da Administração Pública.

O painel foi encerrado pelo Secretário de Estado da Administração Pública, José Leite Martins, que declarou que “a nossa cultura administrativa é marcadamente fragmentada”, avançando a existência persistente de resistências à implementação de novos, e mais eficientes, sistemas de informação e à modernização da Administração Pública, das quais de destaca o fator “Preço” como um dos obstáculos mais determinantes e, muitas vezes, incontornáveis.

Filipe Pimentel

Formado em Ciências da Comunicação, tem especial interesse pelas áreas das Letras, do Cinema, das Relações Internacionais e da Cibersegurança. É incondicionalmente apaixonado por Fantasia e Ficção Científica e adora perder-se em mistérios policiais.

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