Nokia regressa ao mercado de smartphones

Os preparos estão em curso, sendo que a companhia tem vindo a contratar especialistas em software, testado novos produtos e procurado parceiros de vendas. No entanto, a marca terá de esperar até ao final de 2016 para reconsiderar a sua entrada no negócio de telemóveis, altura em que o seu negócio de não-concorrência com a Microsoft expirará.

Recentemente a Nokia deu entrada no mercado de consumo com o lançamento de um tablet Android, o N1, que foi vendido, em janeiro, na China. Divulgou também uma “câmara de realidade virtual”, designando-a como o “renascimento da Nokia” e lançou ainda uma aplicação Android, a Z Launcher, que organiza conteúdos nos smartphones.

A sua divisão de tecnologias anunciou no LinkedIn dezenas de empregos na Califórnia, muitos na área de desenvolvimento de produto, o que inclui engenheiros Android especializados no software operacional que os dispositivos móveis da Nokia irão usar.

A empresa pensa igualmente em despedir cerca de 70 pessoas da sua divisão, decisão que foi comunicada em maio deste ano. Presentemente este número foi reduzido para metade, de acordo com a declaração de uma fonte da companhia à Reuters.

Até à data, a Nokia não tem revelado informação relativamente à sua preparação, somente divulgando que parte dos funcionários da sua divisão de tecnologia estão a trabalhar no design de novos produtos de consumo – nomeadamente de telemóveis –, bem como em vídeos digitais e saúde.

Não será fácil para a marca retomar a sua relevância no negócio de telemóveis que se encontra em constante mudança e que é tão competitivo. Uma medida que visa combater esta questão passa pela aquisição de 15,6 mil milhões de euros da Alcatel-Lucent, anunciada em abril pelo centro de pesquisa Bell Labs.

A Nokia não pretende repetir os erros do passado, pelo que acompanhará as tendências tecnológicas e reagirá mais rapidamente aos gostos dos seus clientes. Adicionalmente a estratégia da empresa passa pela procura de parceiros de negócios de marca licenciada com quem criará novos telemóveis, tendo presente a sua marca, mas, em troca de royalties, permitirá a outras firmas a manufatura em massa, comercialização e venda de dispositivos.

Segundo a agência noticiosa, Rajeev Suri, CEO da Nokia, afirmou no mês passado que o objetivo da Nokia é reentrar no negócio de telemóveis através de contratos de licença. Os negócios de licenciamento de marca serão menos vantajosos do que a manufatura e venda dos seus próprios produtos, mas também menos arriscados. Poderão trazer algum rendimento para futuros investimentos da companhia, mas o que irá gerar a maioria do lucro será a venda de equipamentos de rede telecomunicações para operadores como a Vodafone e a T-Mobile.

“Eles [a Nokia] querem ser inovadores e vistos como uma companhia com uma visão a longo-termo na indústria de tecnologia e ter presença nos dispositivos ajudará a cumprir esta impressão, mesmo que inicialmente não traga grande rendimento”, disse o analista da Gartner, Sylvian Fabre, à Reuters.

Os modelos de marca licenciada não são novos na indústria. Companhias europeias como a Philips e a Alcatel têm feito dinheiro a partir de eletrónica de consumo, licenciado a sua marca consoante as condições dos seus concorrentes asiáticos.

Dada a produção de recém-chegados como a chinesa Xiaomi e a indiana Micromax, poderá não ser possível para a Nokia ter o mesmo sucesso que a Philips e a Alcatel conseguiram alcançar com o aluguer da sua marca.

Com os avanços nos contratos de manufatura e estandardização de software, componentes e funcionalidades como ecrãs táteis, é cada vez mais fácil para as companhias externalizar tudo para produzir telemóveis semelhantes. Ben Wood, analista de telemóveis da CCS Insight, comunicou à agência de notícias que “As barreiras para entrar no mercado de negócios de telemóveis estão mais baixas do que nunca e quase toda a gente pode entrar no mercado de smartphones”.

Até 2009 a Nokia foi continuamente avaliada como uma das marcas top cinco do mundo da década, de acordo com o mercado de pesquisa Interbrand. Desde então, a companhia tem decrescido e, parece agora, pronta para desaparecer das listas top cem. “Uma marca é rapidamente esquecida se estiver ausente do negócio de consumo”, refere à Reuters Anssi Vanjoki, antigo executivo da Nokia e professor na Universidade de Tecnologia de Lappeeranta na Finlândia. Este acrescenta ainda que “A marca não ajudará muito se o produto for semelhante a outro que já tenha sido vendido. Mas se o produto for novo e interessante, a velha herança poderá ser útil”.

Catarina Gomes

Colaboradora da B!T, escreve sobre Negócios e TI. Gosta de desafios e, acima de tudo, de aprender. Fã acérrima de ficção científica e fantasia.

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